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ORÁCULO

As pessoas passaram a ter certezas, com base em nada, apenas no direito de opinião.


NAVEGAÇÃO DE CABOTAGEM (04)


JOBIS PODOS


CORRER ATRÁS E ESPERAR

A sorte é uma entidade invisível que nos visita e resolve a nossa vida. Todos querem ter sorte. Mas ela não resolve a vida de todos, só sobre alguns ela derrama suas bênçãos. Mas como ela escolhe a quem beneficiar, aleatoriamente ou segue algum critério? Todos querem ser visitados pela sorte, alguns a esperam deitados na rede, acreditando que ela vem por que essa pessoa "merece" e, portanto, a sorte não tem outra opção senão bafejar o ilustre merecedor! Outros acreditam também na sorte, porém creem que ela não vem quando a esperamos, ela vem quando corremos atrás dela, a buscamos ativamente. A expressão "deitado eternamente em berço esplêndido" contida no nosso Hino é dirigida ao território e não aos brasileiros. Joaquim Osório Duque-Estrada terminou por influenciar negativamente os brasileiros ao colocar na letra do Hino Nacional, essa referência elogiosa ao território, levando à equivocada interpretação de que merecemos tudo por haver nascido nessa terra de abundância. Terminamos por acreditar que nascendo no Brasil, com toda essa riqueza material em nossas mãos, poderíamos também deitar nesse “berço esplendido” e gozar as delícias da fartura. Esquecemos que a vida é luta, a para vencer é preciso esforço, senão os povos de fora virão até aqui e tirarão tudo de nós e viramos uma terra de buscar. Todos que para aqui vêm estão em busca de algo e nós, inertes, entregamos tudo. Nas casas da classe média brasileira, nascem príncipes, no pior sentido da palavra, pois ninguém mais quer estudar, se esforçar, trabalhar. Quando estudam o fazem com entediado fastio, nunca ligam o estudo ao trabalho, estão sempre aguardando que os pais os provejam de tudo, estão a esperar, ao invés de correrem atrás, de estabelecerem objetivos, empreenderem as ações e nelas perseverarem. Jamais lembram que pais têm vida própria e prazo de validade.

A LIBERDADE DE EXPRESSÃO

A facilidade das comunicações interpessoais nos trouxe um efeito colateral importante e devastador: a presunção de saber, de opinar sobre qualquer assunto, mesmo os mais intrincados, tendo por base o direito de opinião e a liberdade de expressão, sem a preocupação de saber sobre o que se está opinando ou expressando. As pessoas se convencem de estarem certas, apesar de nada conhecerem sobre o assunto sobre o qual estão opinando, sequer buscam as informações mínimas que estão à disposição na internet. As pessoas passaram a ter certezas, com base em nada, apenas no direito de opinião, sequer dúvidas têm, inscientes de que é da dúvida que nasce o conhecimento. Há muitos métodos de resolução de problemas, mas tenho particular admiração pelo método cartesiano – e me defino como tal - e procuro sempre aplicar aos conhecimentos, novos ou velhos, os quatro preceitos do método concebido por René Descartes, que são:

1º) Regra da evidência ou Clareza e distinção: "nunca aceitar algo como verdadeiro que eu não conhecesse claramente como tal; ou seja, de evitar cuidadosamente a pressa e a prevenção, e de nada fazer constar de meus juízos que não se apresentasse tão clara e distintamente a meu espírito que eu não tivesse motivo algum para duvidar dele";

2º) Regra da Análise: "repartir cada uma das dificuldades que eu analisasse em tantas parcelas quantas fossem possíveis e necessárias a fim de melhor solucioná-las", chegando aos elementos mais simples;

3º) Regra da síntese ou da Ordem: "conduzir por ordem meus pensamentos, iniciando pelos objetos mais simples e mais fáceis de conhecer, para elevar-me, pouco a pouco, como galgando degraus, até o conhecimento dos mais complexos, e presumindo até mesmo uma ordem entre os que não precedem naturalmente uns aos outros". Defende a dedução como forma de ampliar o saber, do mais simples ao mais complexo); 

4º) Regra da Enumeração ("efetuar em toda parte relações metódicas tão completas e revisões tão gerais nas quais eu tivesse a certeza de nada omitir". Para que todos os elementos sejam considerados e para verificar se a visão total está de acordo como as regras que foram aplicadas).

Essa concepção metodológica nos leva a esquadrinhar os problemas, ir aos poucos eliminando as dúvidas até chegar a um enunciado que nos permita alguma certeza sobre o conhecimento a adquirido, até que novas dúvidas apareçam e nova revisão se faça necessária.

Diante da afirmação de que o governo atual é redentor ou desastroso, a frase não tem qualquer significado se não foi precedida ou sucedida por uma rigorosa análise metodológica, que nos permita chegar a essa mesma conclusão, seja positiva ou negativa, porque governos, leigos que são, não são julgados com base na fé, mas na comprovação dos dados.

Certa feita um diretor de escola resolveu que era necessário construir um novo tanque para melhor atender à distribuição de água nos diversos setores da organização. O setor de obras mandou um arquiteto para projetar a obra. Feito o projeto, o chefe chamou o arquiteto e mandou que ele construísse o tanque no local oposto ao que constava no projeto. O arquiteto objetou dizendo que, a ser assim, teria que aumentar a altura do tanque, caso contrário a água não cairia. O chefe rebateu: se cai daqui cai dali (!). Está resolvido, apenas faça o que lhe mandei. O arquiteto disse: senhor, isto é física e não se resolve por hierarquia, mas por cálculo. Você é surdo? Faça o tanque onde mandei! Está bem, mas não vai cair água. Fez e a água não caiu. Eis a lição: Sobre o que você não sabe, ouça. Sobre o que você pensa que sabe, estude mais. Sobre o que você tem certeza que sabe, respeite a opinião dos que sabem tanto quanto você e não esqueça de que sempre há alguém que sabe mais do que você. 

O pressuposto do refutar é o conhecer. Exprimir pensamento equivocado baseado em informação falsa ou incompleta não é liberdade, é tolice.


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