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Saída honrosa para Palocci

Uma informação que parecia fadada à fofoca de corredor começa a ganhar corpo dentro do Palácio do Planalto: para dar fim à crise, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, deixaria o cargo até o próximo dia 31 para ser lançado candidato ao governo do Estado de São Paulo. Na semana passada, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva teria demonstrado simpatia por tal alternativa pela primeira vez.


Ugo Braga
Da equipe do Correio

Carlos Moura/CB/1.2.06
Renan Calheiros: aviso ao presidente Lula de que os partidos de oposição não cessarão ataques ao ministro da Fazenda
 
Uma informação que parecia fadada à fofoca de corredor começa a ganhar corpo dentro do Palácio do Planalto: para dar fim à crise, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, deixaria o cargo até o próximo dia 31 para ser lançado candidato ao governo do Estado de São Paulo. Na semana passada, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva teria demonstrado simpatia por tal alternativa pela primeira vez. Interlocutores próximos do presidente disseram ao Correio que, dada a conjuntura, ele imagina solucionar vários problemas com esta tacada, apesar de ter dito em público que seu ministro não sai nem se pedir.

No grupo que se convencionou chamar "coordenação de governo" - formado pelos ministros que atuam próximos a Lula -, diz-se que o envio de Palocci à corrida pelo Palácio dos Bandeirantes é defendida com mais energia pelo secretário-geral da Presidência, Luiz Dulci, e pela chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. A idéia também já teria seduzido outros integrantes do comando político.

Lula, por seu lado, vinha resistindo porque acha que o candidato ao governo de São Paulo deve ser seu líder no Senado, Aloízio Mercadante. Este, entretanto, precisa disputar a indicação do partido com a ex-prefeita de São Paulo Marta Suplicy, que está melhor posicionada tanto nas pesquisas de intenção de voto quanto na burocracia partidária. De Brasília, os articuladores do Planalto enxergam alto potencial destrutivo para a candidatura do presidente à reeleição, caso Mercadante e Marta rachem o PT em São Paulo. Daí clamarem por um tertius.

Curiosamente, o nome de Palocci para o papel ganhou força a partir da última quinta-feira, dia em que o caseiro Francenildo dos Santos Costa desnudou, na CPI dos Bingos, as supostas mentiras do ministro quanto às suas relações com a suspeitíssima República de Ribeirão Preto - grupo de lobistas acusado de tramar negociatas com o governo entre 2003 e 2004. Atacado sem dó pela oposição, Palocci uniu o PT em torno de si. Além disso, chegaram ao gabinete do presidente mensagens de apoio de grandes industriais e banqueiros. Lula ficou impressionado, segundo um interlocutor bastante próximo a ele.

Na quinta-feira, Lula telefonou ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), procurando tomar a temperatura da crise a partir do depoimento do caseiro. Ouviu um relato pouco otimista. Calheiros informou-lhe que o depoimento incendiara a oposição e que o episódio envolvendo Palocci era "grave" e "poderia crescer".

O presidente já começara a costurar a "candidatura de Palocci a deputado federal" - com a qual ele teria que deixar o governo - quando surgiu a informação sobre os depósitos na conta do caseiro. A suspeita de que o depoimento tivesse sido comprado pela oposição deu uma folga ao governo. Na sexta, Lula recebeu um Palocci humilhado, nas palavras de auxiliares de seu gabinete, para uma reunião com os presidentes dos bancos oficiais. Mas recebeu também esses informes segundo os quais o prestígio do ministro em nada fora abalado, no que tange às mesas de operações do mercado financeiro.

Lula, então, teria decidido só mandar Palocci embora se conseguisse uma forma de ele "sair por cima". Foi quando ouviu novamente o canto das sereias por um tertius em São Paulo e, pela primeira vez, se animou com ele. Na ótica de alguns conselheiros presidenciais, a candidatura resolveria muitos problemas. A saber: 1) a cabeça do ministro da Fazenda não seria simplesmente entregue de bandeja à oposição; 2) a crise política perderia muito de seu combustível; 3) Lula lembraria o discurso do "cortarei na carne" em sua candidatura à reeleição, blindando-se das denúncias que reaparecerão na propaganda eleitoral; 4) o PT se unificaria em São Paulo.

Os beques
Todas as conversas em torno do assunto, até aqui, pararam quando alguém pergunta: como fazê-lo? Como fazer Marta e Mercadante abrirem mão de uma campanha que já está na rua? Ontem, os dois participaram de uma reunião plenária justamente em Ribeirão Preto, cidade governada por Palocci duas vezes e de onde saíram os próceres da turma de lobistas que se aboletou em Brasília quando ele tornou-se ministro da Fazenda de Lula.

A reportagem do Correio não conseguiu contatar Mercadante. Marta, após deixar Ribeirão, seguiu para Bauru para mais contatos com militantes. A prévia em que os filiados ao partido escolherão qual dos dois concorrerá aos Bandeirantes está marcada, por enquanto, para 7 de maio. A assessoria de imprensa da ex-prefeita informou que ela não vai se pronunciar sobre "boatos" e que "seguirá fazendo campanha para ser a próxima governadora de São Paulo". Ou seja, falta combinar com os beques.

Colaborou Luiz Carlos Azedo


Oposição denuncista

Da Redação
Paulo H. Carvalho/CB/13.2.06
Berzoini: denúncias visam criar crise e dificultar reeleição de Lula
 

Além de sair em defesa do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, integrantes do diretório nacional do PT aprovaram no encontro de sábado uma resolução convocando seus militantes a reagir contra o que chamaram de "processo denuncista articulado pela oposição". O documento, aprovado por ampla maioria, traz duras críticas à CPI dos Bingos, chamada pelos petistas de "CPI do Fim do Mundo".

O texto da resolução recebeu apenas dois votos contrários entre os cerca de 80 integrantes do diretório que participaram da reunião. Os petistas classificaram a CPI dos Bingos de "instrumento da oposição na tentativa desesperada de criar fatos políticos e negativos contra o governo e o PT". "Apostando na idéia de que Lula e o PT chegariam muito enfraquecidos a 2006, o PSDB e o PFL foram surpreendidos com a capacidade de recuperação da nossa ofensiva. Por isso, retomaram a fúria denuncista", diz o texto.

A resolução ainda faz críticas ao comportamento da oposição em relação ao Orçamento da União, culpando diretamente o PSDB e o PFL por inviabilizar a votação do orçamento. No texto, o PT ainda defende a instalação imediata da CPI das Privatizações, que investigaria decisões do governo passado, do tucano Fernando Henrique Cardoso. E reserva espaço para críticas pelo modo como o PSDB escolheu o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, para disputar a presidência pelo partido.

"A própria dinâmica da escolha mostrou um PSDB dividido, com decisões centralizadas numa pequena cúpula e repleto de manobras obscuras", diz o texto, afirmando ainda que "a escolha do PSDB revela é que sua opção conservadora será apresentada sem disfarces". "Geraldo Alckmin, o candidato preferido pelas elites, tem um discurso claramente conservador e reacionário", afirmam os petistas.

O presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), se referiu especificamente às denúncias surgidas nos últimos dias contra Palocci, vindas do caseiro da República de Ribeirão Preto, Francenildo dos Santos Costa. Para ele, a tentativa da oposição de desgastar Palocci tem o objetivo de criar um ambiente de crise no país para dificultar a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Todos conhecem o papel fundamental do ministro Palocci na credibilidade econômica do país", defendeu.

O líder do PT na Câmara, deputado Henrique Fontana (RS) também fez críticas nesse sentido. "Há uma tentativa desesperada de evitar que cheguemos à eleição debatendo projetos, experiências políticas, comparando governos", afirmou. Na avaliação do PT, o governo Lula superou o "cerco político" movido pela oposição, em 2005, e chega ao ano eleitoral de forma positiva.


Grampo revela propina

Da Redação

As evidências do pagamento de propina reveladas em grampos da Polícia Federal envolvendo o deputado B. Sá (PSB-PI) geraram reação da direção do partido. Ontem, o presidente do PSB, Eduardo Campos (PE), afirmou que vai submeter o parlamentar à comissão de ética da legenda. "Cabe a essa instância ouvir o deputado e tomar uma providência", disse. Em trechos das gravações revelados na edição da revista Veja desta semana Sá é flagrado negociando propina com um executivo da empreiteira OAS, responsável pela construção da barragem de Poço de Marruá. O deputado Domiciano Cabral (PSDB-PB) também aparece em conversas comprometedoras.

A obra que está sendo erguida no sul do Piauí é custeado com recursos de emendas ao orçamento do deputado B. Sá. E, segundo a revista, o ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes (PSB), teria liberado recursos para a concretização do projeto, além de orientar o deputado de seu partido a concentrar as emendas parlamentares a que tem direito na construção da barragem. Em nota à imprensa, Ciro nega qualquer envolvimento com o caso, classifica as citações ao seu nome como "insinuações caluniosas" e diz que a revista ao publicar tal matéria "se misturou à politicagem rasteira que infesta a vida nacional".

Negócios
No caso do deputado Domiciano Cabral, as fitas revelam conversas em que o parlamentar propõe ao próprio sogro e dono da empreiteira Cojuda, Julião Medeiros, que procure fazer negócios com o Departamento Nacional de Infra-estrutura de Transportes (Dnit), alegando haver muito dinheiro no órgão. Medeiros chega a sugerir ao genro que convença o ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento (PL), a pagar uma suposta dívida de R$ 2 milhões, o que renderia ao deputado uma "bolada".

Na última quinta-feira, o presidente da Câmara dos Deputados, Aldo Rebelo (PCdoB-SP) encaminhou o inquérito da Polícia Federal à Corregedoria da Casa. O procedimento agora é a indicação de um relator para concluir o processo, acusando ou não os parlamentares por quebra de decoro parlamentar.


entenda o caso
A turma de Ribeirão

A cabeça do ministro Antonio Palocci está a prêmio desde quinta-feira, quando a CPI Bingos tomou o depoimento do caseiro Francenildo dos Santos Costa, o Nildo. Ele trabalhou na casa na QI 01 do Lago Sul, alugada por Vladimir Poleto, em 2003. O imóvel serviu de base para o grupo formado ainda pelo advogado Rogério Buratti, os irmãos Ralf e Rui Barquette, o empresário Roberto Carlos Kurzweil e pelo secretário pessoal de Palocci, Ademirson Ariovaldo da Silva. Todos têm ligação com o ministro desde quando ele era prefeito de Ribeirão Preto (SP).

Ao investigar a renovação do contrato da Caixa Econômica Federal com a multinacional Gtech, ocorrida em abril de 2003, a CPI descobriu uma trama com muitos indícios de corrupção e tráfico de influência envolvendo o grupo. A quebra do sigilo telefônico dos integrantes revelou uma troca frenética de telefonemas entre eles nos dias críticos da negociação do contrato.

À CPI, todos disseram ser amigos e terem conversado apenas amenidades nas ligações. Os técnicos descobriram o aluguel da casa no Lago Sul e Poleto afirmou tê-lo feito para montar um escritório em Brasília. Convidado à comissão, Palocci endossou a versão da "República de Ribeirão Preto", jurou não ter grande proximidade com qualquer dos personagens e negou ter ido sequer uma vez à casa do Lago Sul.

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