00:00:00

Mensalão, PMDB e Heloísa Helena decidem a eleição - Marcos Coimbra

O governo e os petistas não devem se iludir. O bom resultado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas últimas pesquisas não reflete corretamente o quadro da disputa pela Presidência da República. Ainda há - e muito - espaço para crescimento da candidatura do tucano Geraldo Alckmin. O recado é do cientista político e diretor do Instituto Vox Populi, Marcos Coimbra.


O governo e os petistas não devem se iludir. O bom resultado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas últimas pesquisas não reflete corretamente o quadro da disputa pela Presidência da República. Ainda há - e muito - espaço para crescimento da candidatura do tucano Geraldo Alckmin. O recado é do cientista político e diretor do Instituto Vox Populi, Marcos Coimbra. E mais. Ele ressalta que será de fundamental importância a participação da senadora Heloísa Helena no processo, porque ela tem potencial para crescer e jogar a decisão para o segundo turno, dependendo do tempo que terá de propaganda na televisão. O cientista político alerta que partidos grandes, como PMDB e PFL, devem reestruturar sua atuação, visando o futuro, sob de risco de permanecerem como coadjuvantes no cenário por muito tempo. Em Minas, Marcos Coimbra não prevê surpresas. O governador Aécio Neves é favoritíssimo e deve se reeleger no primeiro turno.


Não há favoritos

Auremar de Castro/EM/16.6.05
 

O cenário já está definido para a disputa presidencial deste ano?
Não. Faltam duas definições, que podem ter repercussões nas eleições. O que vai acontecer no PMDB e quanto tempo de televisão a Heloísa Helena (PSol) terá, supondo naturalmente que a candidatura dela se confirme no partido. Tratando dessa questão, que é mais simples, se ela tiver um tempo resultado apenas da divisão eqüitativa para partidos que não tinham representação no início da legislatura, terá o mesmo tempo de qualquer partido nanico e dificilmente fará algum efeito maior na eleição. Ainda assim, ela pode ter uma votação expressiva, de dois dígitos. Nessa hipótese, mesmo se o PMDB não tiver candidato, a simples presença dela, com adequado tempo de televisão, afasta, ou pelo menos, diminui uma solução já no primeiro turno.

E o PMDB?
É uma equação mais complexa e talvez não se resolva muito rápido. Tudo indica que, com a verticalização, o PMDB não terá candidato próprio. Tudo indica isso. Mas depende de um cálculo que o partido vai ter de fazer sobre o que quer ser no futuro. Porque a única maneira do PMDB voltar a ter expressão nacional como partido, no sentido da disputa político-eleitoral, no compartilhamento do poder, é se reinventar com uma cara nova para o eleitorado. Isso aponta mais para a candidatura de Germano Rigotto do que a do Garotinho. Isso pode ser um caminho, mas não sei avaliar até que ponto não existe no PMDB um sentimento como esse - de um projeto de consolidação nacional, de apresentar uma candidatura nova, formular um rosto, uma identidade nova para o partido - para quando chegar na sucessão do vencedor dessa eleição, o partido estar, de certa forma, pronto para enfrentar as eleições nacionais. Do jeito que o jogo político está se encaminhando, não só tivemos nas últimas três eleições a polarização PT-PSDB, e nessa teremos, evidentemente, mas também podemos ter na próxima e na seguinte.

Há opiniões de que o Lula está entre o candidato forte e o candidato imbatível. O senhor acha que o quadro é esse ou o jogo ainda está aberto?
Eu acho que nós já tivemos o Lula como um candidato imbatível, passou a ser quase que um azarão e hoje voltou a ser um candidato competitivo. É desse modo que ele está hoje. Eu acredito que nós devemos ter a eleição mais disputada das últimas quatro. Agora, não há favoritos. A ilusão de ver o Lula bem nas pesquisas hoje não deve ser confundida com o cenário eleitoral em outubro. De um lado porque o pólo verdadeiro que é o PSDB - hoje não tem um candidato capaz de ser comparado ao Lula pela maioria dos eleitores e, do outro lado, porque nós ainda não sabemos avaliar o estrago de todo o ocorrido durante os últimos meses na imagem do Lula no momento da decisão.

Ainda há muito espaço para o crescimento de Alckmin?
Claro que sim. Ao contrário do José Serra, que tinha um certo teto previsível, que não era baixo, mas era previsível, o Alckmin não tem este teto. O que se pode fazer hoje em termos de especulação, não é um retrato correto. Por exemplo, numa pesquisa, primeiro se pergunta quem o eleitor conhece daqueles nomes. No caso, Lula e Alckim. Depois analisa as intenções de voto apenas daqueles que conhecem os dois. Nesse cenário, o Alckmin está na frente do Lula. Ou seja, entre eleitores que conhecem os dois, hoje, o Alckmin ganha.

O PSDB fez a escolha certa?
Eu acho que sim, embora num certo momento pareceu que a direção do partido visivelmente preferia o José Serra. Fez a coisa certa, porque não seria correto do ponto de vista da formação de um partido com um mínimo de projeto de médio prazo sacrificar uma candidatura como a do Alckmin, que tinha sido escalado para perder, na época em que o Lula era favoritíssimo e, depois que o Lula passou a ser um candidato competitivo, ser destituído. Se ele tivesse aceitado isso que estava sendo feito com ele, teria morrido politicamente. O PSDB precisava apresentar mesmo um nome que não fosse mais apenas um remanescente da turma do oito anos do Fernando Henrique. O PSDB precisava se renovar nessa eleição. Na hora em que tudo apontava para o Lula, o PSDB achou que podia correr risco, depois que passou a achar que podia ganhar, aí tinha que apostar no passado? Isso é sempre ruim. Nós já temos o Lula - que é um candidato que vai para a quinta eleição - e é salutar que tenhamos uma renovação, que é desejada num país que quer mudanças, que tenha candidatos novos, que não seja sempre a mesma coisa.

Até onde a crise política pode afetar a popularidade e a intenção de voto no Lula?
De uma maneira muito grave. Não apenas na perda de uma certa aura de diferença em relação aos outros políticos, mas numa dimensão que é crucial na escolha de alguém para um cargo dessa importância. Mesmo o eleitor mais simples procura sempre o que ele acha que é o candidato mais qualificado. Na eleição de 2002, o Lula conseguiu vencer uma barreira enorme que tinha - que era a desconfiança enorme das pessoas sobre a capacidade dele governar. E vencer isso , em grande parte, apoiado no PT e num conjunto de pessoas que de certa forma supria as deficiências que o eleitorado enxergava nele. E o tipo de campanha feita pelo PT em 2002 começou a diminuir o medo que o eleitor tinha de colocar na Presidência da República alguém que podia não ser um bom presidente. Podia ser uma pessoa ótima, um excelente deputado, um bom parlamentar, mas não necessariamente o chefe do Executivo.

Isso permite prever uma campanha atípica, de muitos ataques?
Não creio. Até acho uma tática muito arriscada. A crise política, de certa forma, já foi posta na mesa. A não ser que aconteça uma coisa extraordinária nova, não creio. Uma coisa a crise já produziu: aniquilou com todas as lideranças que o PT tinha apresentado ao país na campanha e depois no começo do governo. O último que restava, o Palocci (ministro da Fazenda), está visivelmente cambaleando. Ou seja, não resta mais ninguém. Por outro lado, mostrou que a estratégia de proteção do presidente no auge da crise, que foi de afirmar a ignorância dele sobre o que estava se passando, hoje já cobra seu preço e tem ainda coisas a serem cobradas na frente.

Em relação ao Palocci, a manutenção deve ainda interferir no desempenho do presidente Lula na eleição?
Hoje eu acho que muito pouco. Dificilmente trará prejuízos adicionais, considerando o que já foi até agora falado.

Diferente do caso José Dirceu ?
Diferente. Porque o José Dirceu sofreu um golpe forte, que parecia e depois confirmou como fatal, no episódio Waldomiro Diniz, no início de 2004. Num primeiro momento parecia que o Lula faria a coisa certa, que era afastar o Dirceu naquele momento, enquanto a coisa se esclarecia. Ao contrário, ele continuou no Planalto ao lado do presidente e sem ser destituído da função que um mês antes o presidente tinha atribuído a ele, que era de ser o coordenador do governo. Em janeiro, o Lula o nomeia o grande gerente do governo, em fevereiro, começaram as especulações sobre a sua saída. Daí em diante ele nunca mais se recompôs, seja no panorama administrativo, seja no político.

Vamos falar um coisa da eleição em Minas. Aécio é o franco favorito?
Não posso falar dos 27 estados, mas dos que eu conheço pelas pesquisas - e são muitos - Minas é onde existe o maior favorito. O governador Aécio Neves é o maior favorito da eleição deste ano.

Últimas Postagens