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REVISITANDO A HISTÓRIA - Márcio Accioly

Uma subcomissão do Senado norte-americano revelou, na última terça-feira, que o cruel ex-ditador do Chile (1973-90), Augusto Pinochet, utilizou ampla "rede bancária" nos EUA para esconder recursos financeiros desviados na sua gestão.


Boa Vista - Uma subcomissão do Senado norte-americano revelou, na última terça-feira, que o cruel ex-ditador do Chile (1973-90), Augusto Pinochet, utilizou ampla "rede bancária" nos EUA para esconder recursos financeiros desviados na sua gestão. Foram arroladas mais de 100 contas que movimentaram pelo menos 15 milhões de dólares, "incluindo um total de 63 registradas no Citigroup", gerenciadas pelo Citibank Private Bank. Em 1974, Pinochet efetuou a sua primeira viagem ao exterior depois do golpe chileno. E veio justamente ao Brasil, a fim de assistir a posse do general Ernesto Geisel (1974-79). Na ocasião, o deputado baiano Francisco Pinto (PMDB), um dos fundadores do grupo dos "Autênticos", subiu à tribuna para denunciar o eixo Brasil-Bolívia-Chile-Uruguai-Paraguai que estava sendo formado pelas ditaduras militares do cone sul. Alimentada pelo serviço de inteligência dos EUA (país que plantava as sementes da dominação permanente), a América Ibérica se encontrava vergada ao peso das botas castrenses. E a violência política se fez sentir da forma mais pesada e humilhante, através de torturas, mutilações, assassinatos em massa e desrespeito aos direitos humanos. Além disso, os repressores empreendiam ainda o seqüestro de inúmeras crianças, filhos e filhas de "desaparecidos". Elas eram levadas de um país para outro e adotadas por famílias de militares que estabeleceram espécie de sinistro pacto de reciprocidade nesse tipo de ação e votos de silêncio. Por isso que ficou fácil, décadas depois, colocar em prática o plano de destruição das forças armadas de todos os países envolvidos, pois os EUA já lhes haviam minado a credibilidade e os transformado em monstros junto à opinião pública. Desmoralizados e sem argumentos, diante de tantas arbitrariedades cometidas contra as populações, os militares se viram estigmatizados e colocados à margem das decisões. Por conta do discurso efetuado contra o ditador chileno, o bravo deputado Chico Pinto foi denunciado ao STF - Supremo Tribunal Federal -, cassado e condenado a seis meses de prisão. Pena que cumpriu integralmente. E sofreu tão somente por denunciá-lo como usurpador e sanguinário. Não sabia que, além de tudo, Pinochet deveria ser, também, levado em conta como ladrão. Passado o tsunami militar no hemisfério, eis que se estabeleceu nova estratégia para a apropriação dos recursos naturais existentes nos seus países. Inaugurou-se a partir da Terra do Tio Sam a política dos Direitos Humanos, presidência Jimmy Carter (1977-81), com os EUA agindo como se nada tivesse tido a ver com os articulados massacres. Gradualmente, deu-se início à nova etapa que agora compreende o fortalecimento do exército norte-americano (cada vez mais moderno e tecnologicamente equipado), ao mesmo tempo em que se desmontam as forças armadas dos países que possuem recursos naturais quase infindáveis, notadamente o Brasil. E os principais envolvidos nas matanças, os estrategistas de gabinete, saíram de cena incólumes e preparados para novas investidas. Como o ex-secretário de Estado (1973-77) Henry Kissinger (ora servindo à administração George Bush), genocida alemão no melhor estilo nazista que em certa ocasião declarou: "- O que é ilegal nós podemos fazer agora, o que é inconstitucional leva mais um pouquinho de tempo". Em 1973, ele foi indicado e ganhou o Prêmio Nobel da Paz, numa prova da absoluta inversão de valores de tudo aquilo que o mundo dito livre apregoa. O fato é que Chico Pinto pagou por crime que não cometeu e o covarde Pinochet vai escapar da Justiça, pois já se encontra em idade avançada e carece de condições físicas para expiar culpas terrenas (nascido em 1915, irá completar 90 anos em novembro). O grito de suas vítimas, porém, continuará a ecoar pelos corredores da história e na consciência dos que se assombram ao constatar a própria impotência na correção de rumos que nos deixa, a todos, à mercê de sanha tresloucada e inexplicável. Email: [email protected]

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