00:00:00

Editorial - A CASA AO LADO

São poucos, os boa-vistenses e roraimenses que conhecem os detalhes díspares que esculpem a face dupla de nossa Capital. Durante a última campanha eleitoral, o candidato à Prefeitura pelo PSDB afirmou, de forma clara e insofismável que "- Boa Vista é formada por duas cidades".


Recentemente, uma bem-sucedida campanha, encabeçada pela Defesa Civil de Roraima, levou toneladas de alimentos, além de roupas e calçados, em socorro às vítimas da vizinha Guiana, país então vergastado pelos rigores de imprevisto fenômeno natural. Nosso povo confirmou, na fidalguia desse gesto, o alto espírito de solidariedade que distingue a raça brasileira. Pois é hora de se reacender o mesmo sentimento de bonomia, na motivação de sublimes atitudes, para que se realize movimento semelhante em socorro às vítimas da periferia de nossa capital. O IBGE já constatou que Roraima é o estado com maior índice de violência em todo o país. Apesar de possuir a menor população nacional, apresenta feridas sociais que concorrem de forma célere e inevitável para uma septicemia generalizada. São poucos, os boa-vistenses e roraimenses que conhecem os detalhes díspares que esculpem a face dupla de nossa Capital. Durante a última campanha eleitoral, o candidato à Prefeitura pelo PSDB afirmou, de forma clara e insofismável que "- Boa Vista é formada por duas cidades". Numa delas, presencia-se urbe quase moderna: jardins e flores, bares que agregam classes médias em congraçamento, cinemas, avenidas largas e cuidadas, apesar de estar se desenvolvendo, no âmbito da atual administração municipal, inexplicável procedimento de se criarem estacionamentos nos seus leitos. Mas é inegável, não obstante a deterioração que também atinge o centro, a constatação da dessemelhança. Na outra cidade, horribile dictu! Desemprego, miséria, fome, falta de assistência social, ausência de creches (comum às duas), falta de pronto-socorro, inexistência de postos de saúde e medicamentos, carência escolar, crianças à míngua, na concorrência de endemias, absoluto descaso e incúria. Diante de tal cenário, eis que se buscou erigir Vila Olímpica das mais modernas, em bairro que lhe empresta o nome, com gastos milionários na construção de piscinas, pistas revestidas da mais requintada tecnologia e outros artefatos, como se Roraima fosse exportar atletas para países do primeiro mundo, colhidos com varinha de condão de conto de fadas, entre crianças maltrapilhas, doentes, sem trato e esfomeadas. Existe algo de muito errado, ou de totalmente incompreensível em tais prioridades. Isso, considerando-se o fato de que na proximidade de ruas esburacadas, sem meio-fio, nas cercanias de populações inteiramente destituídas, promete-se o soerguimento de prédio magnífico no qual vão sendo drenados inimagináveis recursos. Valores que poderiam ser mais bem aplicados na educação, saúde, assistência social, ou mesmo no resgate de crianças condenadas à morte pela desnutrição e bestial abandono. A nova Câmara Municipal, renovada no último pleito, vê-se agora no dever e na obrigação de visitar a Vila Olímpica, fazendo levantamento preciso acerca dos gastos astronômicos ali efetuados, e buscando razões que levam a administração municipal a essa conduta. Deveria, até mesmo, promover visitas da primeira cidade à periferia, a fim de que todos tomem conhecimento das condições desumanas em que vivem seus habitantes, modo de ser que elevou Roraima a exibir o mais alto índice de violência no país. Ao tomar conhecimento do lamentável estado em que se encontram mergulhados os nossos jovens, crianças, homens e mulheres de todas as idades, poder-se-ia encetar o primeiro passo: uma campanha de amplo alcance, na qual a sociedade inteira se mobilizaria para integrar os irmãos da periferia, discriminados na cidade proibida que se estende para além dos limites da avenida São Sebastião. A cidadania iria percorrer, dessa forma, o mais significante trecho de sua consciência.

Últimas Postagens