- 20 de agosto de 2025
Por Marlen Lima Brasília - Em resposta a um e-mail, de um pastor, que foi bastante feliz num artigo quando indaga o que se tira de bom do carnaval, ou o que vale o carnaval na vida das pessoas . Devo dizer que no meu ponto de vista o carnaval deve ser a festa em que se comemora a vida. Agora, claro, o povo em toda sua sapiência e humildade, mas também por toda sua inocência e ignorância comete abusos, extravagâncias, justamente por achar que só no período momesco é possível colocar tudo para fora, extravasar, mesmo, o espírito. Portanto é mais do que normal quando tudo termina na quarta-feira de cinzas, o palco é retirado de cena e o folião volta a encarnar o seu personagem diário, cotidiano, e volta ao normal e vive toda suas frustrações, realidades, sonhos, desejos e anseios. Vejo que no carnaval o que se quer é soltar exatamente esses desejos e anseios escondidos que só nos dias carnavalescos são apropriados a se revelarem. Ao que parece o cidadão veste a fantasia durante os quatro dias de folia, e como isso é institucionalizado, em sua cabeça tudo deve ser permitido, pois é a festa dele, feita por ele, e isso o faz ter a ilusão de que pode fazer o que bem entender, sem limites. E é nesse momento em que são quebrados preceitos íntimos, e os vascilos são mais fáceis de serem cometidos. É aí que o folião peca, e peca mais contra si mesmo. Mas Deus é grandioso e sabe que folião quer em seu íntimo ser dono de si, pelo menos um vez. Para o folião o carnaval se torna possível viver uma falsa realidade, e os sonhos se transformam em euforia momentânea em o que se quer é brincar, festejar essa alegria, em muitos casos são vividas de forma distorcida, exagerada, abusada, em demasia. Vejo que é daí que surgem os naturais pecados que são cometidos de forma até inocente, de tanto que o povo deseja realizar, externar seus desejos. Ainda que em nome da alegria, ainda que essa alegria seja de momento, e que as distorções tomem rumo, em certos casos trágicos como mortes, estas que ocorrem não diretamente pelo carnaval mas pela mistura de êxtases em que o folião se veste para poder viver o carnaval, o que se deseja é somente viver a euforia. A euforia do pecado, pois o povo entende que é no carnaval é permitido pecar, e pecar para o povo é fazer o que quer, ainda que sofra mais tarde com isso. Tenho certeza que existem carnavais em que se comemora a vida de forma em que o dia seguinte não seja lembrado com dor, ou com amargura, ou ainda com arrependimento de ter feito mal a si mesmo ou a alguém. Tem carnavais em que se prega a união da vida, dos amigos, da família. Para mim carnaval é isso, a festa da vida em que os sonhos são expostos. Uma pura celebração do prazer em estar vivo e graças ao Senhor. Pois tudo na vida tem sua hora, e celebrar a vida com Deus deve ser todos os dias, mas se o próprio Deus descansou no sétimo dia, por que então, o folião não descansa de tudo, da realidade, da vida e vive os quatro dias de folia sem rumo? É mais ou menos como se o povo pedisse permissão ao Divino para cometer os desatinos e que em quatro dias promete voltar ao normal. MISTURA EXPLOSIVA Claro que a associação de bebidas alcoólicas levam a um distúrbio maior do que é a realidade e o sonho. Mas como Deus sabe discernir e sabe ser o que Ele é, Grande em sua benevolência em perdoar e estar sempre pronto a nos receber, desde que nossos corações tenham em si o sentimento de rever conceitos e atos, e poder entender que carnaval não é a festa do pecado, da luxúria, e sim deve ser a festa em prol da vida e dos sonhos que podem viver durante quatro dias em harmonia com o seu próximo. Mas é certo que no passado distante os pagãos declinaram o carnaval como a festa de que tudo pode. E é aí que está o erro, mas um erro perdoável, já que o povo é temeroso à Deus, mas o seu desejo em viver sem prestar contas é alto, e o faz pecar. Assim como o Natal, o carnaval é uma festa só que esta é vivida em explosão, uma explosão grandiosa em que o libido fica muito externado, solto, em desespero já que tem o limite de nascer e morrer em quatro dias. O Natal é a data maior em que se comemora a vida do Salvador, e é uma data agraciada para se refletir e orar e mais que tudo de se familiar com o próximo. Mas o carnaval, não, ele não quer reflexões, o que se busca é a desenfreada descida da ladeira em ritmo acelerado pela vida num batuque frenético dos gritos que surgem para externar algo preso. Mas ainda assim, o carnaval é somente uma festa de inocentes que se acham, por um único momento, que são os principais atores da roda da vida, que imita a arte ou a arte imita a vida? E daí esse é o maior dos pecados, o ser humano que acredita que pode ser deus e escrever o seu próprio roteiro. Sendo assim, acredito que Deus perdoa, tenho certeza que Ele tem planos para nós, e principalmente para os que ainda se encontram perdidos entre discernir o que é real e o que é possível ser sonho e viver esse desejo. * Jornalista