À TRIPA FORRA - Márcio Accioly

A eleição do vereador de primeiro mandato José Reinaldo (PMDB), para a Presidência da Câmara Municipal de Boa Vista, deveria deixar de molho e ensopadas as barbas de muita gente no grupo político que atende à orientação da prefeita Teresa Jucá. Ela declarou em entrevista, dias antes da decisão, que apoiaria o nome do vereador Braz Behnck, filiado à sua legenda política (PPS). Deu com os burros n'água. Devido, talvez, quem sabe (?) ao fato de passar a maior parte do tempo ausente do município, estando, portanto, alheia aos acontecimentos da Capital, a chefe do Executivo cometeu grave erro de avaliação e já pôde perceber que os fatos não estão se desenrolando dentro daquilo que estabelecem suas previsões e projetos. A luz amarela está acesa! O momento decisivo de todas essas alterações que ora se processam em Roraima, tem de ser registrado na decisão do Supremo Tribunal Federal - STF -, ao afastar Flamarion Portela (sem partido) do governo do estado, dando posse ao classificado em segundo lugar no pleito de 2002, Ottomar de Sousa Pinto (PTB). Não se deve tapar o Sol com uma peneira! A política adotada pelo novo governador tem sido a da tolerância, na convivência pacífica com todas as correntes, colocando-se acima de disputas partidárias e rinhas improdutivas. Ottomar encontrou um estado devastado pela rapinagem irresponsável de assaltantes e perdulários sem qualquer compromisso ético ou moral. Seja com instituições ou com a determinação de rumos e necessidades. Quem com ferro fere, com ferro será ferido! Surpreendendo até mesmo os seus mais fiéis seguidores, o governador optou por contemporizar, por fazer uma administração conjunta, ouvindo aliados e adversários, no fito único de reverter cenário desesperador e que se encaminhava para impasse de gravíssimas proporções (se Flamarion não tivesse sido afastado, o colapso se afiguraria inevitável). Mas a população dificilmente irá esquecer que Flamarion Portela "governava" juntamente com o senador Romero Jucá Filho (PMDB) e, portanto, de braços dados com o grupo político da prefeita. No dia mesmo em que o STF cortou as asas do então governador, anunciava-se, através dos jornais locais, a posse de novos secretários para o dia seguinte, nomes indicados num acordo que envolvia o senador Filho e seus seguidores. Não se tem como enganar a todo mundo durante todo o tempo! Além do mais, novos reveses poderão ser contabilizados no grupo jucarista, jucariano, com o possível julgamento, num júri popular, do vice-prefeito Iradilson Sampaio (talvez ainda neste primeiro semestre), acusado de ter mandado executar o cabo eleitoral conhecido por "Ceará", no município de São João do Baliza. A Justiça tarda, mas não falha. Com base neste julgamento, que não se tem como avaliar, os desdobramentos serão terríveis. Por não existir nada de administrativo que possa ser contabilizado no saldo político do senador Filho e entourage; porque as lembranças com relação ao oportunismo desvairado, em alianças vazias e sem sentido (cujo único intuito é o de tirar proveito pessoal, eleitoral), não registram admoestação, reprimenda, advertência ou observação com referência aos atos criminosos da gestão Flamarion Portela. Uma posição de acumpliciado. Tudo agora vai depender de habilidade na articulação política que o grupo hoje instalado no governo revele. Os dados, negativos, ou positivos, acumulam-se numa espécie de inconsciente coletivo e em determinado momento a fatura é apresentada. Assim como as reações não surgem de forma aleatória, nada vem de graça, nada vem à-toa. Como bem dizia Epicuro (341-270 a.C.): "- Não há bem que sempre dure, nem mal que nunca se acabe". Email: [email protected]