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NA LATA DO LIXO - Márcio Accioly

Ao menosprezar o debate, Teresa apagou todas as luzes de campanha milionária, cheia de fogos de artifício e na qual se constituía a maior estrela. Corroborou rumores que a apontam como incapaz de articular qualquer raciocínio longe do texto escrito por marqueteiros. Mostrou-a despreparada e insegura, quando distante dos efeitos especiais de computação gráfica que dominaram seus programas televisivos. Que decepção!


Boa Vista - O debate político realizado na TV-Roraima pôs fecho de ouro na campanha eleitoral municipal. A expectativa de que se iria assistir a forte embate, com a prefeita Teresa Jucá (PPS) submetida a ataque cerrado de pelo menos dois de seus ferrenhos adversários, Otoniel (PSB) e Neudo Campos (PP), não se concretizou por conta de sua ausência. Mas tudo aconteceu em alto nível, devido especialmente ao preparo e conhecimento revelado por Júlio Martins (PSDB). Ele foi feliz nas colocações e dosou o tempo com rara precisão. Otoniel e Neudo Campos frustraram os bairros mais afastados da periferia, nos quais se concentram quase 60% da população boa-vistense, ao contestarem proposta de Júlio que defende a construção de hospital de pronto-socorro na Pintolândia. Quem circula pelos bairros Senador Hélio Campos, Santa Teresa, Tancredo Neves e adjacências, onde a maioria populacional se encontra na linha de pobreza ou abaixo dela, constata o abandono absoluto por parte do poder público. São milhares de crianças sem acesso à educação, creche, escola, ocupação ou lazer. Some-se a isso a questão sanitária, além da falta de saneamento e teremos retratado o caos. A ausência da prefeita no debate abriu precioso espaço para os três participantes que restaram. Numa apresentação que se iniciou fria, derivou por tecnicalidades sem importância e alcançou o ápice na presença acreditada de Júlio Martins comandando a cena. Foi ele quem elevou o nível e se sobressaiu, transmitindo credibilidade e segurança. Provocado por Otoniel, o peessedebista lembrou o período de ex-prefeito (1974-78), quando integrou o então território federal de Roraima na construção de escolas, hospitais, creches e estradas. Não falou porque não quis, ou porque passou despercebido na refrega, mas poderia ter citado bairros que brotaram de seu planejamento e trabalho na capital roraimense, tal como o 13 de setembro, bairro dos estados, Mecejana e São Vicente, todos dotados de completa infraestrutura, inclusive saneamento. Otoniel fez boas colocações e deu toque de humor que não permitiu a aridez se impor. O vereador é pessoa interessada no ordenamento urbano de Boa Vista e demonstra conhecimento a respeito da legislação. Na Câmara Municipal, tornou-se referencial positivo com projetos capazes de despertar polêmica, mas sempre em defesa do interesse público. Já Neudo Campos, talvez ainda não tenha percebido que melhor seria dar um mergulho enquanto o tsunami (grande onda oceânica) não passa. Problemas judiciais o retiraram do eixo político majoritário e ficou difícil, quase impossível, ultrapassar barreiras erigidas no concreto da rejeição. O apoio do ex-governador Ottomar Pinto (PTB) a Júlio Martins o colocou debaixo dos holofotes de um cenário onde todos, tal qual Diógenes de Siracusa (lanterna à mão em pleno meio-dia), procurava uma pessoa de bem. De maneira que ao mover Júlio Martins no tabuleiro das articulações, Ottomar acertou em cheio. Foi desses raríssimos lances que, às vezes, se transformam em cartada decisiva. Ao menosprezar o debate, Teresa apagou todas as luzes de campanha milionária, cheia de fogos de artifício e na qual se constituía a maior estrela. Corroborou rumores que a apontam como incapaz de articular qualquer raciocínio longe do texto escrito por marqueteiros. Mostrou-a despreparada e insegura, quando distante dos efeitos especiais de computação gráfica que dominaram seus programas televisivos. Que decepção! Foi como imperdoável insulto à população que ficou de olho na telinha, desejosa de avaliar como cada qual iria se conduzir. A ausência soou como ato de profundo desrespeito à cidade, calando fundo na auto-estima e no amor-próprio de uma população que se sentiu manipulada e lesada. O erro pode lhe ter sido eleitoralmente fatal, neste pleito de reeleição. Agora, só nos resta aguardar o domingo, dia três de outubro. É possível que lá pelas 21 horas já se tenha o nome do novo governante. Mas, sem sombra de dúvida, todos irão às urnas conscientes de que a atual prefeita, Teresa Jucá, agiu como se tivesse jogado a todos nós, eleitores da capital, simplesmente na lata do lixo. Email: [email protected]

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