- 20 de agosto de 2025
Edersen Lima
De Brasília
Ao sabor das conveniências
De uma coisa a política é feita e ninguém tem um fio de dúvida sobre isso: de conveniências. Quem não lembra a revoada de Mecias de Jesus, Neudo Campos, Mozarildo Cavalcanti, Getúlio Cruz e tantos outros da base de Flamarion Portela para o colo do saudoso Ottomar Pinto em novembro de 2004, apenas dois anos depois de terem pedido voto contra quem representava o "passado" e o "populismo" na eleição de 2002?
Foi conveniente para essa turma pular de barco buscando guarida em outra freguesia depois que Flamarion foi cassado. Isso foi feito sem qualquer cerimônia ou constrangimento. Mecias foi logo se colocando ao inteiro dispor do velho brigadeiro. Getúlio, foi até candidato a deputado federal no mesmo partido de Ottomar, o PSDB. Neudo, pediu e teve uma secretaria extraordinária temendo ser preso. E Mozarildo, de tão grato, passou a campanha de 2006 afirmando que seria "o senador de Ottomar". Mas na primeira, única e última vez que brigadeiro lhe fez um pedido, negou. Isso ocorreu horas antes dele morrer.
Por ter sido o maior beneficiado daquela revoada, fiquemos com Mozarildo como exemplo. No blog, que convenientemente patrocina, está lá: "O combate à corrupção tem sido a bandeira do senador Mozarildo Cavalcanti, especialmente nas questões que envolvem desvios de recursos públicos que deveriam ser empregados em setores essenciais como saúde, segurança, infraestrutura, saneamento básico, entre outras. Defensor incansável da Lei da Ficha Limpa, o senador comemorou o resultado do julgamento nesta quinta-feira (16) no Supremo Trinunal Federal", elogia o blogueiro.
É conveniente, afinal, quem é que pode defender a tese de que um infrator contumaz seja candidato ao que quer que seja? Na prática, não. Aí já são outros quinhentos. Mozarildo Cavalcanti é extremamente favorável à aplicação da Lei. Mas parece que só para os outros. Não para amigos feito o ex-governador
Neudo Campos.
Ele engrossa o time dos que acreditam que Neudo não é ficha suja. Ficha limpa, na verdade, é que não deve ser. Responde a vários processos na Justiça onde já foi condenado a 53 anos de prisão por improbidade administrativa, formação de quadrilha, malversação de recursos públicos, além de outras nódoas em seu proceder, irregularidades que o levaram a morar por um breve espaço de tempo numa das celas da Cadeia Pública de Boa Vista, em 2003.
Mesmo assim, Mozarildo e jornalistas que patrocina se pegam na tábua de salvação - ainda que tênue - da falta de condenação por colegiado. Para Mozarildo, Neudo só seria ficha suja caso tivesse sido condenado por um grupo de juízes. Por um de cada vez não vale.
Tudo bem, o julgamento pelo colegiado ainda vai acontecer. Mais cedo ou mais tarde. Aliás, mais tarde. A oportunidade de já tê-lo sido foi
desperdiçada em 2010, quando Neudo renunciou ao mandato de deputado federal, obrigando a que seu processo fosse baixado do Supremo para a Justiça Federal em Boa Vista, onde foi, de fato, condenado.
Se não tivesse corrido do pau, ou seja, se não tivesse renunciado ao mandato, Neudo teria sido, naquela ocasião, julgado pelos ministros do STF, e de uma só vez. E hoje ninguém mais estaria questionando se ele é ou não ficha suja.
Com 53 anos de prisão decididos por dois juízes federais, um de cada vez, não é difícil prever o resultado final para o maior aliado do senador "defensor incansável da Ficha Limpa", que tem "o combate à corrupção como bandeira". O Caso Gafanhotos não permite qualquer dúvida nesse sentido, seja na Justiça, seja na população. Aconteceu e pronto. Resta a Mozarildo e políticos como ele o direito que lhes assiste de pular de barcos ao sabor das conveniências.