Opinião Formada

Campeonato indigesto

Edersen Lima
De Santiago de Compostela

Ao ver o vídeo postado no YouTube, em que Neudo Campos, condenado a 52 anos de cadeia por desvio de dinheiro público, em tom de deboche diz que "estava arrumado" para assumir o governo, vem a impressão que há um campeonato em curso para decidir qual político é o mais sem-vergonha – literalmente – e o mais cara de pau de Roraima. O senador Mozarildo Cavalcanti se diz paladino da moralidade, ao mesmo tempo em que promove festas com dinheiro público. Desfruta de banquetes em restaurantes de luxo, em Brasília.

Todos os meses o contribuinte paga, em média, mais de R$ 2 mil para que Mozarildo deguste carnes nobres de origem argentina e uruguaia, e mariscos acompanhados de excelentes bebidas. E pior: os gastos não se restringem à sua pessoa. São extensivos a amigos e convidados especiais.

Gastar dinheiro do contribuinte nessa farra indiscriminada é ou não falta de vergonha? Ir à tribuna pedir a cassação de um governador simplesmente porque este poderá ser seu concorrente nas eleições de 2014 é ou não atitude de deslavada cara de pau?

Mecias de Jesus, o homem dos milagres, é outro que prega respeito à coisa pública, mas responde na Justiça Federal, junto com a mulher, o sogro e um cunhado, por crimes básicos como formação de quadrilha – desvio de dinheiro público no famoso Escândalo dos Gafanhotos.

E não só isso: omitiu bens em suas declarações de renda e não explicou o que fez para multiplicar em dez vezes o seu patrimônio num período de oito anos. Acusar quem quer que seja de desvio de dinheiro público sendo réu pelo mesmo crime é ou não é falta de vergonha? Cobrar isso tudo da tribuna é ou não é muita cara de pau?

Getúlio Cruz, eminência parda da PMBV, foi quem levou a cidade e o funcionalismo municipal a viver o atual momento de crise - falta de investimentos, de empregos temporários e de desemprego constante.

Passou a vida apontando erros administrativos e ensinando como se deve cuidar do bem público, mas é réu no maior rombo de uma obra não realizada em Roraima, o Escândalo da Dragagem do rio Branco. Condenado pela Justiça Federal, posa de homem ínclito, probo, limpo, muito limpo.

Getúlio vive apontando o dedo para os outros, e esquece que uma vez o saudoso Ottomar Pinto se referiu à sua "preponderância glútea", que deixa de rastro na maior cara de pau e sem qualquer tipo de constrangimento.

E sobra ainda Neudo Campos, aquele que sem nenhum tipo de vergonha disse alto e bom som: "Não posso mais errar", ao lembrar-se dos parentes que roubaram na Codesaima e dos aliados que comprou via folha dos gafanhotos.

Neudo, aquele que às vésperas de ver seu processo entrar em pauta de julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF), abdicou do cargo de deputado federal, alegando que renunciava "para ficar mais perto do povo roraimense".

A se considerar as qualidades de cada personalidade citada, vê-se logo que o páreo será duro. Mas, por ser campeão de processos a que responde na Justiça, tudo indica que Neudo dará um banho nos demais. Mostra-se, sim, imbuído dos atributos necessários para receber os distintos títulos de Campeão dos Sem-Vergonha e dos Caras de Pau de Roraima.

No mais, tem-se ou não a impressão de que em Roraima acontece um campeonato indigesto?

Da andaluza série "Autorias Próprias"...

A Catedral de Santiago de Compostela vista do Parque Alameda.

Interior da Catedral de Santiago

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No alto da cripta central da Catedral de Santiago, um símbolo maçônico.