- 20 de agosto de 2025
Responsabilidade alheia
Edersen Lima
De Brasília
Alguns telefones de algumas secretarias estaduais estão cortados há semanas. Desleixo administrativo? Incompetência gerencial? Falta de recursos? Em tese, a resposta para essas três perguntas seria um sonoro "sim". Mas na realidade - e não em tese -, o motivo de alguns telefones de algumas secretarias estarem cortados se deve ao abuso do servidor público em usá-los como se fossem seus, utilizando-os em interurbanos nacionais e internacionais à torta e à direita.
A reclamação chegou à imprensa e nas páginas de blogs que, em tom de indignção, volta e meia lembram do assunto dos telefones cortados nas secretarias A, B e C. Nenhum dos denunciantes do desleixo administrativo e da incompetência gerencial do governo revela que durante meses discou e conversou com parentes que moram em outros estados e em conversas de tempo sem fim, por minutos e minutos quase que todos os dias. Esquecem das ligações que outros colegas fizeram a amigos e também a familiares que vivem em outros países, contando-lhes as "últimas" da terrinha.
Em uma ligação ocorrida às 8:18h da manhã para Auckland, Nova Zelândia, em novembro passado, um servidor ou servidora da Secretaria de Educação falou por 27 minutos sabe-se lá com quem e o governo é que teve que pagar quase R$ 3 mil reais. A ligação foi de um telefone fixo para um celular neozelandês. Outras ligações como essa somam aos gastos do governo com linhas que deveriam servir para o trabalho e não para bate-papos.
O uso do que é público como se fosse de propriedade de alguns servidores não se restringe somente a telefones em ligações nacionais e internacionais. O hábito - ou cultura - vai bem além. Do jornal do chefe à internet passando - é claro - pelo uso dos computadores para traballhos escolares dos filhos e os seus, da faculdade.
Alguns jornalistas que têm blogs e são empregados em órgãos públicos, usam telefones, computadores, internet, energia elétrica de seu local de trabalho para atender seus outros negócios. Assim sendo, o poder público é que banca alguns blogueiros que denunciam e criticam o corte de energia, o não pagamento da conta de telefone e do serviço de internet do governo. Alguns bloqueiros, amigo leitor, recebem justamente para fazer isso com a permissão de quem os contratou, para isso.
Cabe aqui afirmar que esse mau hábito - ou cultura - de alguns servidores públicos se restringe a alguns servidores. A maioria não pode ser responsabilizada até porque nem todos têm parentes e amigos vivendo fora de Roraima ou, não têm o simancol de deixar de usar o que não é seu fazendo com que os outros paguem por seus abusos e acusações de que o "desleixo administrativo", a "incompetência gerencial" e a "falta de recursos" são de responsabilidade alheia.
