- 20 de agosto de 2025
A herança torrada
Edersen Lima
De Brasília
Quando Teresa Jucá deixou a Prefeitura de Boa Vista em 2006 para se candidatar ao Senado, os servidores municipais recebiam em dia, havia dinheiro em caixa, as principais obras realizadas nos últimos 20 anos estavam prontas e o funcionalismo consumia menos de um terço (1/3) do que consome hoje da folha de pessoal. Quatro anos depois, o que se ouve sobre a PMBV é que ela está "quebrada", "falida". A herança deixada por Teresa foi para o ralo.
O prefeito Iradilson Sampaio herdou uma máquina pequena e simples, mas bem ajustada, com folga para deslanchar. Era vice de Teresa, assumiu, mudou secretarias e passou a responsabilidade de planejamento e economia do município para as mãos do professor Getúlio Cruz, espécie de babalaô da Folha de B. Vista que, reprovado inúmeras vezes pelas urnas, dava aulas de ética e moral políticas, e de economia e planejamento nas páginas do "jornal necessário".
As aulas de ética e moral política dadas pelo babalaô são questionáveis. Ele
já foi condenado pela Justiça Federal a devolver mais de R$ 40 milhões pelo desvio de recursos públicos da bizarra obra da dragagem do rio Branco na década de 80. Um devaneio lunático que dragou cerca de US$ 10 milhões (Dez milhões de dólares). Por causa disso, Getúlio passou a ser conhecido como o "senhor Dragagem". Alcunha essa que o velho brigadeiro, Ottomar Pinto, sempre fazia uso ao se referir a ele.
Babalaô ainda foi além. Também nos anos 80 inventou uma tal "hidroelétrica do Paredão" e ameaçava dar um "choque" em quem duvidasse que ela seria construída. Paredão foi igual a dragagem do rio Branco. Dragou dinheiro público e não deu choque em ninguém. Serviu apenas para somar na alcunha passando para "senhor Paredão Dragagem".
Como economista e administrador, Getúlio tem a Folha de B. Vista como portifólio. Um jornal feio que tem um papel da pior qualidade, tanto que suja as mãos de quem o lê; editado em duas cores quando no resto do país os principais são coloridos; editoração das mais feias e repetitiva há 20 anos. Se não investe em qualidade no maior patrimônio da família, como Getúlio poderia investir em algo de bom na vida pública?
A resposta da pergunta acima está na situação da Prefeitura de Boa Vista. O responsável pelos atrasos de pagamento, do 13º salário dos servidores, das demissões - que ainda vão ocorrer, tenha a certeza, amigo leitor -, dos cortes salariais, da falta de recursos para investimentos, da seleção e apadrinhamento de quem fica e quem vai para rua na PMBV, é Getúlio Cruz, ou o "senhor Paredão Dragagem" como Ottomar lhe chamava.
A realidade da Prefeitura é de lástima, a ponto de não se ver hoje interesse de políticos em disputar o seu comando. Fornecedores e prestadores de serviços já exigem pagamento à vista pois temem pela dificuldade em receber pelo fornecimento e pelo serviço executados. Obras estão paradas. O Carnaval, tradição em Boa Vista, foi cancelado por falta de dinheiro. Salários atrasados passaram a ser realidade. Postos de saúde funcionando virou raridade. Investimento não existe. Planejamento, mesmo, só consta no título da pasta de Getúlio.
Ou seja, o que de bom e construído na gestão de Teresa Jucá foi dragado pelo ralo da incompetência administrativa de quem ainda insiste em dar aulas de economia e de como planejar. Vemos que Boa Vista tem sua versão tosca de um Jorginho Guinle - o milionário carioca que torrou toda a herança da família e morreu pobre-. Pena que no caso da Prefeitura, a herança torrada tenha sido a de uma cidade.
P.S: Jorginho Guinle, ao menos, tinha bom gosto.