- 20 de agosto de 2025
Coragem para fazer a coisa certa
O Fontebrasil quer aqui fazer coro com o seu colunista Júnior Brasil, em sua denúncia sobre a tentativa que a prefeitura de Boa Vista faz de dar o tiro de misericórdia em um dos poucos igarapés que teimam em manter vivo o seu curso d’água serpenteando livremente o interior do perímetro urbano de Boa Vista.
Desta vez, o marcado para morrer é o velho igarapé Mirandinha. Um projeto, como bem disse Júnior Brasil, “equivocado e estúpido”, e pior, com instintos eleitoreiros, está em vias de ser executado, sem que nenhuma autoridade responsável por cuidar do meio ambiente levante a voz para barrar o processo depreciativo, que terá respingo em toda a sociedade roraimense.
Não é necessário ser técnico para entender que, ao se canalizar o leito daquele curso d’água, ele perderá seus principais olhos d’água ao longo de seu curso, e, fatalmente, morrerá. É mais ou menos o que se fez com o lago do Parque Anauá, antigamente conhecido como Lago dos Americanos.
O lago era perene o ano todo. Depois que passou por aquela “limpeza” em seu calado, no início da década de 1990, nunca mais foi o mesmo. Não mais conseguiu segurar água em sua concha. Todo ano enche no inverno e seca torridamente no verão, como se viu nestes últimos dias.
É de espantar a passividade que toma conta das autoridades responsáveis pelo meio ambiente nas três esferas governamentais – federal, estadual e municipal –, e que, como tal, têm poder de vetar a escandalosa obra que a prefeitura pretende executar. Diga-se, sob as bênçãos de políticos que patrocinam emendas parlamentares para financiar o feito. Infelizmente, estes, a única coisa que conseguem enxergar é a urna de boca aberta pronta para receber votos.
Como bem frisou Júnior Brasil, a realidade mostra um dantesco espetáculo, duro de encarar: a obra já nos alicerces e o leito do igarapé completamente assoreado.
“Nem o Ibama, nem a Femact, nem o Iphan, nem o Conselho Municipal das Cidades e o Conselho dos Recursos Hídricos (pois é, ele existe...), nem a Câmara Municipal, nem o Ministério Público manifestaram qualquer posição em relação àquele ato criminoso contra o Mirandinha, contra a cidade e contra as futuras gerações...”.
Sem dúvida, as pessoas responsáveis por mais este crime ambiental serão também atingidas por ele, ainda que na pessoa de um neto, ou mesmo bisneto. Seria mais racional, então, pensar, refletir e voltar atrás na decisão enquanto há tempo.
O que deve ser feito, todos sabem. Não se faz necessário alardear aqui. Parece, no entanto, que o que está faltando às autoridades é coragem para enfrentar o problema e, assim, fazer a coisa certa. Tempo ainda há, e bastante, para essa feliz empreitada.