- 15 de maio de 2025
LEILA SUWWAN DA SUCURSAL DE BRASÍLIA Na pauta: quem vai dar um beijo em Severino? Ninguém se candidatou, mas o deputado Fernando Gabeira (PV-RJ) foi avisando: "A química humana é incontrolável, quem quiser dar um beijo, que dê com gosto". Isso esclarecido, o grupo de gays, lésbicas, bissexuais, travestis e simpatizantes marchou com bandeiras de arco-íris pela Câmara dos Deputados ao encontro do arqui-rival do movimento, o presidente Severino Cavalcanti (PP-PE). Eram 35 representantes de 15 entidades. Dez anos atrás, o deputado fez fama ao interrogar um ativista gay sobre sua preferência sexual: "É ativo ou passivo?", questionou, à época o hoje presidente. O alvo da pergunta de Severino estava ontem no grupo -era o secretário da Associação Brasileira de Gays, Lésbicas e Transgêneros, Toni Reis. "Ia lembrar ele disso, mas não quis despertar ciúmes em dona Amélia", disse Reis, que não foi reconhecido pelo presidente da Câmara. O grupo seguiu animado pelo Salão Verde, ponto de encontro dos deputados. "Somos muitos e estamos em todos os lugares", comemoravam. Ao chegar à sala de audiências, uma surpresa. Seis deputados evangélicos faziam uma pequena barricada na porta por onde entraria Severino. Queriam entrar antes, assegurar que o colega não seria demovido de suas "nobres convicções". Como souberam da audiência? "Estamos em todos os lugares, sempre alertas", disse um. Entraram antes, mas ninguém achou ruim. Na sala lotada, os ativistas, portando bandeiras, cantavam: "Severino, cadê você? Eu vim aqui só pra te ver..." Severino apareceu e, por alguns segundos, todos aguardavam uma gafe, uma saia-justa -ou, quem sabe, um beijo? Nada. A transexual Andrea Stefany, 30, desistiu da idéia. "Sou uma moça muito conservadora..." As reivindicações foram as esperadas, e as palavras de Severino, previsíveis. "Serei um magistrado", disse. Levantou aplausos ao dizer, conforme o roteiro, que irá descer da Mesa para combater "aquilo que não aceita" (leia-se: "aquela coisa de homem com homem, mulher com mulher"). Mordeu a isca. Para o movimento o que vale é levar as propostas ao plenário. Querem aprovar até final de maio o crime de discriminação por orientação sexual. A verdadeira batalha é a união civil de homossexuais. Nessa, bastaria meia-vitória. Avaliam que Severino pode ceder, com um pequeno empurrão da filha, Ana Cavalcanti, sobre a união. Mas não vai deixar passar a adoção de crianças. "Não faz mal, a gente faz que nem a Nazaré", chegou a brincar antes um ativista, lembrando, com mau gosto, a personagem de novela que roubou um bebê. Sob o canto triunfal do hino nacional, Severino deixou a sala. Aplaudido, mas sem beijos.