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ENTREVISTA: Longe dos holofotes, Marcelinho Carioca mantém a língua afiada

Em entrevista exclusiva ao Pelé.Net, meia revela que nunca foi amigo de Ricardinho, está longe de parar e que o GAMA será seu novo Palmeiras.


CAMPINAS - Amado por muitos e odiado pela grande maioria dos torcedores brasileiros, Marcelinho Carioca não é mais o mesmo. Depois de anos mergulhado em polêmicas, o meia, principal estrela do emergente Brasiliense, entra na reta final de sua carreira com pinta de bom moço. Tudo isso, porém, sem perder a língua afiada. "Depois de um tempo, acabei fazendo uma autocrítica e vi que precisava melhorar. Estou em uma outra fase, longe de confusão", justificou o jogador, nesta entrevista exclusiva ao Pelé.Net, uma semana depois de ter estreado com a camisa do atual campeão brasileiro da Série B. Apesar da tranqüilidade, Marcelinho ainda espera um final de carreira bem movimentado e, se possível, com títulos. No início de 2005, o meia deixou o modesto Ajaccio, da França, para voltar ao Brasil e encabeçar um projeto ousado do ex-senador Luiz Estevão, que visa a conquista do Campeonato Brasileiro de 2005. "Vamos chegar nas cabeças", prometeu o jogador. Aos 33 anos e organizando um instituto de auxílio a crianças que levará seu nome, o Pé-de-Anjo garante não ter mágoas do Corinthians. Nem do ex-companheiro Ricardinho, com quem nunca teve laços mais estreitos. "Nós nunca fomos amigos. Éramos colegas de clubes, mas não tínhamos ligação", revelou Marcelinho. Para não perder o costume, o eterno ídolo corintiano aproveitou para alfinetar o rival Palmeiras e também seu mais novo adversário no futebol nacional, o Gama. "Quando pinta aquela camisa [verde], não tem como fugir. Tem que meter bola para dentro do gol mesmo". Pelé.Net - Como você avalia seus dois primeiros jogos pelo Brasiliense? Marcelinho Carioca - Foi maravilhoso, muito além do esperado. No primeiro, participei dos quatro gols [vitória por 4 a 0 sobre o Santa Maria]. No domingo, consegui marcar o meu e depois dar o passe para o segundo [empate por 2 a 2 com o Guará]. Estou muito contente com o que produzi nessas partidas. Pelé.Net - E aquela discussão no jogo contra o Guará*? Marcelinho Carioca - Só se eu fosse burro para fazer aquilo que eles disseram. Os caras iam me jantar do outro lado. Se o futebol de Brasília realmente quiser crescer, as pessoas terão de ser mais profissionais. * No último domingo, Marcelinho foi acusado de tentar invadir o vestiário do Guará e de atirar um balde contra um diretor do clube adversário. Pelé.Net - Quanto tempo você levará para entrar totalmente em forma? Marcelinho Carioca - Acredito que não vá demorar muito, não. Tive uma pequena tendinite quando ainda jogava na França e acabei ficando três meses afastado. Estarei totalmente pronto para a fase final [do Campeonato Metropolitano]. Só preciso ganhar ritmo de jogo. Pelé.Net - O Campeonato Metropolitano é mais limitado tecnicamente em comparação aos grandes centros do futebol nacional. Você não tem medo de que uma boa campanha no Estadual possa iludir a equipe sobre o desempenho na Série A do Brasileiro? Marcelinho Carioca - Aqui existe muita correria. Depois que o Asa de Arapiraca eliminou o Palmeiras na Copa do Brasil*, ficou comprovado que não existe mais essa de time bobo. O futebol daqui está evoluindo e vai crescer muito. Em breve vão aparecer muitos jogadores de qualidade. * Em 2002, o Palmeiras foi eliminado pelo Asa de Arapiraca na primeira fase da Copa do Brasil. Em Alagoas, na estréia, perdeu por 1 a 0. Depois, no Parque Antártica, venceu por 2 a 1 e ficou sem a vaga por ter sofrido um gol em casa. Pelé.Net - Você acha que o Brasiliense pode brigar pelo título Nacional? Marcelinho Carioca - Não tenho dúvida de que vamos chegar nas cabeças. Temos time não só para brigar pela vaga na Libertadores (os quatro primeiros do Brasileiro se classificam para o torneio sul-americano), mas pelo título também. Vamos ficar como mineirinhos, comendo pelas beiradas e trabalhando com os pés no chão. Nosso time é operário, mas um operário que estudou, esperto. Pelé.Net - Qual a diferença do Brasiliense para os outros clubes? Marcelinho Carioca - É um time que está crescendo muito. Teve uma ascensão meteórica nos últimos quatros anos e vai continuar assim. Acho que o pagamento de bichos gordos ajuda bastante. O pessoal aqui come grama para vencer. Pelé.Net - Na época do Corinthians, a torcida do Palmeiras o odiava. Você acha que já despertou esse sentimento no arqui-rival do Brasiliense, o Gama? Marcelinho Carioca - Eu espero que sim. É uma rivalidade legal e saudável. Quando pinta aquela camisa [verde] não tem como fugir. Tem que meter bola para dentro do gol mesmo. Pelé.Net - Você teve outras propostas para voltar ao Brasil? Marcelinho Carioca - Fui procurado pelo Atlético-MG e pelo Vasco. Eles foram muito atenciosos comigo, mas acabou não dando certo. Tive um contato com o Corinthians também só que a conversa não evoluiu. Pelé.Net - Por que escolheu o Brasiliense? Marcelinho Carioca - O presidente Luiz Estevão queria me contratar havia três anos. A proposta feita pelo Brasiliense foi muito boa e não tinha como recusar. Eu tinha contrato por mais dois anos com o Ajaccio, mas o presidente (do Brasiliense) pagou a multa e me trouxe de volta. Pelé.Net - A proposta do Brasiliense foi superior ao que você recebia na França? Marcelinho Carioca - [Silêncio por algum tempo]. Posso dizer que é maior, sim. Pelé.Net - Você acha que está abrindo um novo mercado para os jogadores de futebol no Brasil? Marcelinho Carioca - Ninguém acredita que eu poderia jogar aqui um dia. Acredito que isso vai atrair cada vez mais atletas para cá. Muitos jogadores que estão sem clube acabam procurando o Brasiliense para jogar. É maravilhoso ver esse tipo de coisas acontecer. Pelé.Net - Como você foi recebido pelos jogadores? Houve algum tipo de ciúme por parte de alguém? Marcelinho Carioca - De forma alguma. É um grupo maravilhoso, unido e que tem uma harmonia muito boa. Senti um clima muito bom logo no primeiro dia. É difícil encontrar isso no futebol, mas o Brasiliense é como se fosse uma família. Nada resiste ao talento. Joguei em um clube [Corinthians] onde havia jogadores que não se falavam há três anos. Só que dentro de campo todo mundo corria e dava o máximo por aquela camisa. Pelé.Net - No anúncio de sua contratação, o Iranildo disse que pretendia continuar como o cobrador oficial de faltas da equipe. Como vocês definiram isso? Marcelinho Carioca - O Chuchu [apelido de Iranildo] não disse nada disso. Somos amigos e quem estiver em melhor condição vai bater sem problema algum. Pelé.Net - Você atuou quatro vezes fora do Brasil [Espanha, Japão, Arábia Saudita e França] e não conseguiu o mesmo sucesso que aqui. Qual o motivo do baixo rendimento no exterior? Marcelinho Carioca - Na Espanha, eu era muito jovem e não tinha um empresário que pudesse olhar para o futuro e me ajudar. Como o dólar estava um para um, acabei voltando para o Corinthians ganhando o mesmo que lá fora. Quando estava no Santos, apareceu uma proposta irrecusável do Japão e não tive como ficar. Isso aconteceu no Vasco também, nas duas vezes em que saí. A vida é feita de oportunidades. Precisamos aproveitá-las. Pelé.Net - Isso prejudicou sua seqüência na Seleção Brasileira? Marcelinho Carioca - Com certeza. Poderia ter sido convocado mais algumas vezes. Fui levado pelo Vanderlei Luxemburgo* e depois ele mesmo acabou me tirando das convocações depois dos problemas que tivemos. Depois voltei a ser convocado quando o Emerson Leão [2001] era o treinador. * A estréia do meia na Seleção Brasileira aconteceu em 1994, em amistoso contra a Iugoslávia. Pelé.Net - Você guarda mágoa do que aconteceu no Corinthians? Marcelinho Carioca - Não tenho mágoa, mas fiquei triste pelo que ocorreu*1. Tinha uma história muito bonita no clube e tinha certeza de que seria o maior artilheiro*2 de todos os tempos do Corinthians. Rejeitei muitas propostas da Europa para ficar e depois aconteceu aquilo. O importante é que eu tenho reconhecimento da torcida para sempre. *1 Em 2001, Marcelinho declarou que o meio Ricardinho foi agredido por companheiros de clube por ser o traíra do elenco. Após ficar 36 dias treinando sozinho no Centro de Treinamento de Itaquera, o Pé-de-Anjo conseguiu na Justiça o direito de mudar de clube e acertou a sua transferência para o Santos. *2 Marcelinho Carioca é o quinto maior artilheiro da história do Corinthians, com 206 gols marcados. Cláudio lidera o ranking com 306. Pelé.Net - Você ainda tem amizade com o Ricardinho? Marcelinho Carioca - Nós nunca fomos amigos realmente. Éramos colegas de clubes, mas não tínhamos ligação. Pelé.Net - Na semana passada, o meia Djalminha anunciou o final da carreira aos 34 anos. Você pensa em jogar até quando? Marcelinho Carioca - Não coloco uma data certa, mas quero continuar jogando até ter condição física. Nos treinamentos eu não quero perder para os garotos e me esforço ao máximo. Quero manter minha forma física e jogar até quando der. Depois, o jeito vai ser virar comentarista. Pelé.Net - Só comentarista? Marcelinho Carioca - Não. No dia 21 de abril vamos lançar aqui mesmo em Brasília o Instituto Marcelinho Carioca. Com a ajuda do governo e de empresas, espero poder ajudar crianças carentes. Tive uma infância pobre e sei como é isso. Se esses jovens não puderem ser atletas, vamos trabalhar para que eles se tornem empresários ou tenham uma profissão. Estou muito contente com esse projeto. Não quero dinheiro por isso. Sou uma pessoa realizada e pretendo ajudar os outros agora. Pelé.Net - Hoje você é um jogador mais calmo e afastado de polêmicas. O que aconteceu para mudar assim? Marcelinho Carioca - Sempre fui mal-interpretado (controverso). Falava uma coisa fora de campo e depois acabava fazendo outra dentro dele. Aí todo mundo perguntava: o Marcelinho é maluco ou marqueteiro? Depois de um tempo, acabei fazendo uma autocrítica e vi que precisava melhorar. Agora, estou em uma outra fase, longe de confusão. Pelé.Net - Ainda sonha com a Seleção Brasileira? Marcelinho Carioca - Claro que sim. Vai depender muito do que conseguirmos mostrar no Campeonato Brasileiro. Se o time for bem, tenho certeza de que poderei ser lembrado pelo Parreira (treinador) e pelo Zagallo (coordenador técnico). Pelé.Net - Qual seu relacionamento com eles? Marcelinho Carioca - Não tenho contato direto, mas eles são sempre muito educados quando me encontram. Nunca tive problemas com treinadores. Meu único atrito foi com o Vanderlei e agora somos bons amigos.

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