- 20 de agosto de 2025
Por Francisco Espiridião A ficção científica é pródiga em notícias de asteróides, astros, cometas e outros seres espaciais a ameaçar a sobrevivência do planeta Terra. Uma das indicações mais significativas encontra-se na trilogia Star War (Guerra nas Estrelas), do cineasta George Lukas, e que tem como estrelas principais em seu último episódio, Harrison Ford, Mark Hamill e Carrie Fisher. Os protagonistas tentam a qualquer custo impedir o trabalho de mentes tacanhas na construção da "Estrela da Morte", capaz de destruir um planeta numa eventual colisão. A idéia de um possível acidente de tais circunstâncias envolvendo a Terra, numa improvável desordem intergaláctica, não é nova e, ciclicamente, tira o sono daqueles mais preocupados com o dia de amanhã. Obras nesse filão, invariavelmente, usam e abusam da licença poética, ao vender ao público um apelo terrificante, em geral utilizando-se de conceitos "tecnologicamente improváveis, eticamente lamentáveis e fisicamente absurdos", como cita Marcos Valério, do site www.xr.pro.br, em ensaio sobre ficção científica. Estrela que Brilha Na edição desta semana, a revista Veja traz uma matéria intitulada "A estrela teve um chilique", onde mostra que, por pouco, a Terra não voou pelos ares, atingida por um poderosíssimo facho de luz, lançado pela estrela identificada pelo código SGR 1806-20, uma habitante da Via Láctea. O fato aconteceu em dezembro passado. O desprendimento do raio de luz foi algo considerável, haja vista ter "arremessado ao espaço, num único jato, uma quantidade de energia maior do que a liberada pelo Sol em 100.000 anos". Veja afirma que o brilho da estrela, que não durou mais que "décimos de segundos", não chegou a ser registrado a olho nu, em razão da maior parte dessa energia haver escapado na forma de raios gama, invisíveis ao olho humano. Os cientistas garantem que se a liberação de luz tivesse ocorrido a 10 anos-luz da Terra, hoje seríamos seres do passado, fazendo dupla com os dinossauros. Estaríamos todos torradíssimos da silva. Planeta Vermelho A exemplo de todas essas miríades de elocubrações, está em Boa Vista o profissional liberal Domingos Pereira, que, sob o patrocínio da Milenium Edições do Brasil, faz divulgação do livro "Hercólubus - Ou Planeta Vermelho", do escritor colombiano Joaquín Henrique Amórtegui Valbuena (V.M. Rabolú - 1926-2000). Nessa obra, Rabolú alerta para o perigo que, segundo ele é iminente, da colisão da Terra com o tal planeta vermelho, o Hercólubus. Na visão psicodélica de Rabolú, a colisão é algo que não se pode deter. Apocalipticamente, o fato vai ocorrer em "muito curto prazo", em razão dos humanos merecerem, "para acabar com tanta maldade (a maldade do ser humano)". Em seu devaneio, os cidadãos hercolubuanos também não ficam atrás em matéria de falta de ética e de canibalismos outros. O objetivo do livreto, composto de mirradas 50 páginas, é passar a mensagem gnóstica, onde o conhecimento seria a saída para o cataclismo anunciado. Antes, no entanto, de passar para os devaneios espirituais, Rabolú cita algo relevante: a situação enfurecida da natureza. Recentemente, vimos o que ocorreu no sudeste da Ásia, quando o deslocamento de placas no fundo do mar provocou um maremoto de proporções jamais vistas na história, o tsunâmi que resultou na morte de mais de 200 mil pessoas. Ilhas e extensões litorâneas consideradas paraísos da humanidade foram devastadas em questão de minutos. "Há grandes fendas ao longo do mar, profundíssimas, que já estão fazendo contato com o fogo da Terra, devido precisamente aos ensaios atômicos que estão fazendo os cientistas e as potências, que se crêem potências, sem medir as conseqüências das barbaridades que cometeram e estão cometendo contra o planeta e contra a Humanidade." (Página 15). Quinta Dimensão O cerne do livro de Rabolu é a pregação do que ele chama de "desdobramento astral". Através dele, o homem poderá livrar-se do iminente cataclismo. Uma vez que a destruição virá - haja posto ser uma afirmativa bíblica (2.ª Pedro, Capítulo 3) -, resta ao ser humano sair do corpo físico e assumir de fez o corpo espiritual. Esse segundo estágio, de acordo com o autor, seria a "Quinta Dimensão". A mudança do estágio físico para o espiritual, para Rabolú, ocorre através da prática de magia. Deitado, usa-se "mantrans", que são palavras de ordem, repetidas insistentemente em voz alta e depois, mentalmente, até sentir uma corrente elétrica passando por todo o corpo. Aí, levanta-se e dá-se um pulinho para ter a certeza de que se está levitando. Tudo isso contraria as Escrituras Sagradas, que, apesar de apregoar a destruição final da Terra, ardendo em fogo, coloca Jesus Cristo como única tábua de salvação para o ser humano. (Evangelho de João, capítulo 4:6). Voando Alto Rabolu é o que se pode chamar de lunático de carteira, como tantos outros que se encontram por aí. Acreditando viajar em transe pelos planetas Marte e Vênus, chegando até mesmo a descrever a compleição física dos alienígenas, bem como sua forma de existência, ele assegura o que cientificamente ninguém conseguiu comprovar: que há vida em outros planetas da Via Láctea ou de outros sistemas intergalácticos. Bilhões de dólares são gastos anualmente pelas Agências Espaciais das grandes potências para descobrir o que há de verdade em tais planetas. O exemplo atual são as sondas gêmeas não tripuladas Spirit e Opportunity, da Nasa, que estão em solo marciano desde janeiro de 2004. A missão das duas rendeu mais de 750 fotografias, nas quais não se conseguiu detectar a existência de água, indício maior de que haja vida naquele planeta. O livro está à venda nas livrarias da cidade e nas drogarias Megafarma, ao preço nacional de R$ 3,90. Para aqueles que, como os gregos, vivem em busca de novidade, Hercólubus é uma boa pedida.