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CORINTHIANS: Passarella exige autonomia

Argentino só vai dirigir o Timão se não houver interferência em seu trabalho.


Daniel Passarella só aceita ir para o Corinthians, em substituição a Tite, se tiver total autonomia para comandar e montar a equipe. O treinador argentino conversou durante todo o dia de ontem com o iraniano Kia Joorabchian, presidente da MSI, e insistiu não só em um altíssimo salário como também neste ponto: se recebesse a garantia de que não haveria interferência em seu trabalho, admitiria aceitar o cargo. O argentino desembarcaria hoje em São Paulo para conversar pessoalmente com Joorabchian. A exigência de Passarella se justifica após o episódio que teria servido como decisivo na demissão de Tite. Após a derrota para o São Paulo por 1 x 0, domingo, Kia entrou nos vestiários do Corinthians irritado com a atuação da equipe. Teria feito reclamações, em inglês, a Paulo Angioni, diretor da MSI. O dirigente tentou acalmá-lo, mas a rispidez do executivo acabou chamando a atenção dos jogadores. Tite se sentiu ofendido, pediu (em português) calma ao novo homem forte do clube e acabaram discutindo. Especulou-se que Kia teria ficado irritado por Carlos Tevez não ter sido o escolhido para cobrar o pênalti desperdiçado pelo lateral Coelho, que empataria o clássico do Morumbi. Angioni e o diretor de futebol, Andres Sanchez, negam esta versão. "Vocês que conhecem futebol sabem que quem treina é quem bate", disse Sanches ao lembrar que Coelho é o cobrador oficial. O ex-zagueiro Passarella não tem o perfil de quem aceitaria tal suposta ingerência em seu trabalho. O argentino ficou conhecido no futebol por declarações polêmicas - como quando exigiu que os jogadores da seleção argentina, em 1994, cortassem os cabelos e não usassem brincos - e também por ser uma pessoa de difícil trato. É considerado chato, implicante e ranzinza pelos jornalistas de seu país. As pressões contrárias existem, mas Kia não abre mão de ter Passarela. Ontem, Ronaldo Pinto, presidente da Gaviões da Fiel - principal torcida organizada da equipe -, tentou cancelar a contratação. Teria ligado para o iraniano, dito que preferiria Nelsinho Baptista ou Paulo Autuori. O dono da MSI, no entanto, tem autonomia total na decisão. No fim de 2004, quando Wanderley Luxemburgo, então no Santos, disse não à MSI, Kia buscou outro representante portenho, Carlos Bianchi (que não pôde vir por problemas pessoais), mas também sondou Passarella para a função de treinador, oferta logo recusada. Passarella não aceitou também a proposta para ser uma espécie de consultor do Corinthians, acompanhando jogos e eventos internacionais como representante do clube. "Ele não quis porque achava que poderiam confundir as funções dele com a de Tite e não queria atrapalhar o treinador", contou Paulo Angioni. Com a saída do treinador gaúcho, o nome do argentino voltou à tona. A intenção dos dirigentes é apresentá-lo oficialmente amanhã. O técnico argentino não vê a hora de voltar a dirigir um time. Depois de sua malsucedida passagem pelo Parma (2001/2002), havia dito que nunca mais voltaria a ser treinador. Tite deu sua primeira entrevista após a demissão na manhã de ontem e confirmou a discussão com Kia. "Teve conflito, sim. A princípio não foi direto comigo, mas acabei puxando para mim. A dignidade profissional e o vestiário após o jogo são territórios sagrados, um local de sentimento", explicou o ex-treinador do Corinthians. Ele garantiu nunca ter havido qualquer outra tentativa de interferência do homem forte da MSI. "Sempre tive autonomia para escalar e definir minha linha de trabalho", afirmou.

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