- 20 de agosto de 2025
Folha de S. Paulo BRASÍLIA - Eram quase 22h30 de anteontem na capital da República. Nesse instante, entrou na Redação da Sucursal de Brasília da Folha um oficial de Justiça acompanhado por advogados. Traziam uma decisão judicial que impedia o jornal de publicar uma notícia redigida por Josias de Souza. O texto baseava-se em fatos sobre os quais não pesava, até aquele momento, segredo de Justiça. A ordem de censura prévia partiu do juiz João Luiz Fischer Dias, da 9ª Vara Cível da Circunscrição Judiciária de Brasília. O magistrado atendia pedido de Erick José Travassos Vidigal -filho do presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Edson Vidigal. A Folha ficou proibida de divulgar qualquer notícia que direta ou indiretamente se relacione a processos envolvendo Erick Vidigal. O relevante do episódio não são apenas os personagens e seus atos. Até porque a proibição foi derrubada ontem pela própria Justiça. A gravidade maior é a pré-história institucional em que vive o Brasil. O presidente da República é eleito pelo voto direto. O real está cada vez mais valorizado. A economia vai crescer 4%. Na vida real, a história é outra -um juiz pode, a qualquer tempo e hora, privar um jornal de publicar uma reportagem. Errou o juiz? Não importa. O gritante é a falta de cultura de certos valores republicanos, como liberdade de expressão. Jamais passaria pela cabeça de um juiz do interior do Arkansas proibir um jornal de publicar uma reportagem. Aqui, tudo se passa em Brasília. No Congresso, ontem à tarde, nenhum discurso inflamado. Nenhum senador nem deputado indignado. Não estão nem aí. Querem cargos, emendas. Defender a liberdade de expressão, nem pensar. O melhor do Brasil é o brasileiro, vive martelando na TV o comercial lulista. No fundo, às vezes, o pior do Brasil é o Brasil mesmo.