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Lula é vaiado e chamado de traidor em Maceió

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva discutiu ontem com estudantes que o vaiaram e arremessaram ovos e um tomate em direção ao palanque oficial, durante a festa dos 115 anos da Proclamação da República, em Maceió. O grupo de 30 alunos da Universidade Federal de Alagoas agitou faixas de protesto contra a reforma universitária e chamou Lula de traidor durante todo o discurso, lido em aproximadamente dez minutos.


FÁBIO GUIBU Folha de S. Paulo O presidente Luiz Inácio Lula da Silva discutiu ontem com estudantes que o vaiaram e arremessaram ovos e um tomate em direção ao palanque oficial, durante a festa dos 115 anos da Proclamação da República, em Maceió. O grupo de 30 alunos da Universidade Federal de Alagoas agitou faixas de protesto contra a reforma universitária e chamou Lula de traidor durante todo o discurso, lido em aproximadamente dez minutos. Aparentando calma, o presidente respondeu de improviso. Chamou os manifestantes de meninos e disse que o protesto comprovava que "a democracia no Brasil veio para ficar". A manifestação começou quando o locutor oficial anunciou que Lula iria discursar. Vaias se misturaram aos aplausos, surpreendendo a comitiva e a segurança. Quando o presidente se dirigia ao microfone, dois ovos e um tomate foram lançados. Um ovo atingiu a base do palanque, perto de onde se encontrava sentado o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu. O outro ovo e o tomate explodiram no meio da rua. Cerca de 25 policiais militares e seguranças cercaram os manifestantes, que estavam postados do outro lado da avenida, a cerca de 30 metros do palanque oficial. Portando faixas com frases como "não à reforma privatista do governo" e "universidade pública, ensino de qualidade", os estudantes juntaram então as vaias aos gritos de "abaixo a repressão". Os seguranças e policiais não intervieram e não houve confronto. Mas o barulho incomodou o presidente Lula, que chegou a interromper por um instante sua fala. Sua resposta, entretanto, só veio no final, em forma de improviso. "O Brasil avançou tanto, a democracia avançou tanto, que até os nossos companheiros conquistaram o direito de vir protestar", disse o presidente, olhando para os manifestantes. Foi aplaudido pelo público que lotou as arquibancadas, montadas na avenida da Paz, à beira-mar. O Exército calculou em 3.000 o número de pessoas presentes. Mas novas vaias e gritos foram dirigidos a Lula pelos universitários. Voltando-se então para o governador de Alagoas, o presidente continuou: "Viu, Ronaldo Lessa? Acho isso de um significado extraordinário. Eu acho que isso demonstra que a democracia no Brasil veio para ficar". Mais aplausos e vaias. "Como eu gritei a vida inteira em todos os palcos do mundo, nunca vou achar ruim que as pessoas gritem. Mas, muitas vezes, as pessoas gritam até sem saber por que estão gritando", afirmou o presidente. Os gritos dos estudantes continuaram. Lula também continuou: "Se esses meninos que estão gritando aí fossem representantes da oligarquia, poderiam me chamar de qualquer coisa. Se eles fossem trabalhadores, iriam reconhecer que nunca na história do Brasil os trabalhadores chegaram a tão alto patamar de participação política e nunca participaram tanto das decisões", declarou, dando por encerrada a discussão. Os estudantes universitários disseram à Folha que não eram filiados a nenhum partido político. O presidente, que em seu discurso oficial ressaltou o direito à liberdade, afirmando que "numa sociedade republicana não se admite que o arbítrio fira a norma nem que o bem comum se submeta ao privilégio", recebeu em Maceió a Medalha do Mérito da República Marechal Deodoro, outorgada pelo governo estadual. Além dele, outras nove personalidades receberam a mesma homenagem, entre elas o ministro José Dirceu, o vice-presidente e ministro da Defesa, José Alencar, e os governadores Jorge Viana (PT-AC) e Wilma de Faria (PSB-RN).

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