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ACIDENTE IRRECORRÍVEL - Márcio Accioly

Verdade seja dita: a humanidade caminha para caos imensurável e indizível. Vivemos época de profunda transformação social, sob a superfície de um planeta cujos recursos naturais se esgotam a olhos vistos. Os chamados valores éticos e morais, toda essa construção filosófica que só serve para mascarar roubos, massacres e imposições, vão ruindo diante da impossibilidade de manutenção de aparências, em face de necessidades sempre crescentes.


Brasília - Verdade seja dita: a humanidade caminha para caos imensurável e indizível. Vivemos época de profunda transformação social, sob a superfície de um planeta cujos recursos naturais se esgotam a olhos vistos. Os chamados valores éticos e morais, toda essa construção filosófica que só serve para mascarar roubos, massacres e imposições, vão ruindo diante da impossibilidade de manutenção de aparências, em face de necessidades sempre crescentes. Os excluídos são em número tão avassalador que desejam e terão de ser ouvidos. O escritor inglês George Orwell, em livro indispensável ("1984") para quem se interessa a respeito das relações sociais, expôs com clareza como funciona os mecanismos de dominação, sob o manto da hipocrisia. Ele até criou um termo, "novilíngua", para explicar como se exerce o domínio. Em "1984", romance que disseca a estrutura autoritária estatal no massacre de impotentes cidadãos, guerra é paz, ignorância é sabedoria e o Ministério do Amor é quem cuida da tortura. Exatamente como se observa no dia-a-dia. Os governos constituídos defendem valores democráticos e justiça nas ações, quando na realidade são os que mais exploram e roubam os cidadãos, gerando miséria e desconforto. As instituições funcionam a reboque, ancoradas em esquemas que se perpetuam e não se modificam jamais, pois o que interessa é o acúmulo de riqueza para minoria insaciável: tanto no plano das pessoas quanto no que se refere a países. No plano interno, como no Brasil, estamos transformados numa nação de escravos. Tudo que se produz é entregue ao FMI, administrado pelos EUA, para sustentar corporações financeiras que fraudam balanços e inflacionam o preço de suas ações na aplicação de golpes intermináveis. Nas eleições presidenciais que se processam, o escolhido não passa de mero títere, boneco manipulado a emitir conceitos e jargões de viciado script. Como no romance de Lampedusa (O Leopardo), muda-se tudo para que tudo continue rigorosamente igual. O discurso de véspera é o oposto do dia seguinte. O único setor em que não se admitem experiências e inovação é aquele responsável pela economia. Veja-se o caso do Banco Central, Banco do Brasil e área financeira: os personagens são ditados pela matriz, pois não se pretende correr risco. Tudo obedece a estratagema disposto. Não importa que se tenha um presidente bêbado, analfabeto ou absolutamente despreparado para a função. Bóris Yeltsin, a respeito de quem ninguém mais fala na Rússia, complementou desastre orquestrado pelo antecessor, Mikhail Gorbatchov, ao iniciar processo de "privatização" (igualzinho ao patrocinado por FHC, no Brasil), que destruiu e arrasou por completo a antiga União Soviética. O sistema capitalista, nascido com a Revolução Industrial inglesa, está chegando a melancólico final. Seu maior símbolo, a hoje odiada América, personificada pelos EUA, não tem mais como responder aos apelos da enorme massa excluída. Começou marginalizando pessoas, na proliferação crescente de guetos de miseráveis, destituídos e desassistidos, ampliando-se na exclusão fantástica de inúmeras nações. Como no romance de Orwell, passou a se utilizar de linguagem peculiar, tal qual a novilíngua. Onde diz defender a democracia, invade apenas para roubar e saquear recursos naturais (veja-se o caso recente do Iraque). Onde se coloca como guardião da liberdade, fabrica ditadores e oficializa mutilações e torturas (veja-se o cone sul-americano, vilipendiado na década de 1970). Caminhamos para impasse absoluto. O mundo não tem mais como suportar tanta fome, abandono, penúria e desprezo. Email: [email protected]

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