- 20 de agosto de 2025
O Globo Brasília - Quando a anistia política foi concedida, em 1979, teve como objetivo promover o reencontro entre o governo e setores da sociedade brasileira, passando uma esponja nos excessos praticados por todos e abrindo a perspectiva de novo horizonte para o país. Naquela época, estávamos vivendo o 15° ano do movimento militar de 64, sob o governo do general Ernesto Geisel (1974-79), um dos mais ilustres e qualificados expoentes daquele regime. A anistia veio com a intenção de serenar ânimos, dentro de tradição histórica, trazendo paz e tranqüilidade à família brasileira, na esperança de descortinar novos caminhos. Como se sabe, e existe vasta literatura a respeito, era outro o contexto político mundial. A dicotomia política a que o mundo se via submetido criava cenário restrito em que se impunham reduzidas alternativas. É impossível transpor o sentimento reinante à época, por mais que se percorram dados históricos disponíveis. Dessa forma, o regime militar, consciente de ter impresso indispensáveis e reclamadas correções, deu início ao chamado processo de abertura política que teve seqüência sob o mandato do general João Figueiredo (1979-85), consolidando-se na eleição do ex-governador mineiro Tancredo Neves, no Colégio Eleitoral de 1985. E cumpriu-se, assim, o rito democrático anunciado desde o alvorecer de 31 de março de 64. O país vem atravessando, desde então, turbulência normal a que se vê cingido o processo democrático, com 15 anos de governantes eleitos pelo voto direto, na passagem de cinco presidentes civis em 19 anos, um dos quais reeleito dentro de novas regras impostas pela Constituição Federal. É preciso, pois, que se procurem outros bodes expiatórios para as crises constantemente vividas por nossa República, deixando-se de atacar o estamento militar como alguns se propõem, de maneira gratuita, sem o menor fundamento. O que se percebe viva e claramente é a expressa vontade de se fabricarem crises políticas sem consistência ou significado, sempre que são insuficientes as respostas a situações específicas. Como, por exemplo, aquela que impede cumprir promessa eleitoral fantasiosa de criação de dez milhões de empregos num mundo em recessão, no curto prazo de um mandato de quatro anos! A anistia veio com a proposta de pacificação no esquecimento de diferenças, suscitando-se novas condições em busca de um trabalho conjunto que instale mundo melhor para as novas gerações. Não o esquecimento da história, porque é ela quem nos ensina e quem nos permite aprender na correção dos desacertos. De maneira que precisamos olhar para a frente, sem querer fazer ressurgir conflitos já superados e que fazem parte de processo que pertence ao passado. Até porque, como nos ensinou o Mahatma Gandhi (1869-1948): "- Se for para usar a pena de Talião, de olho por olho, corremos o risco de caminhar para um país inteiro de quase cegos". *Francisco Rodrigues é deputado federal pelo PFL-RR