- 20 de agosto de 2025
"Erros médicos, em geral, são fatais. Erros de engenharia provocam tragédias. Erros jornalísticos produzem vítimas silenciosas, dores de alma". (jornalista Luís Costa Pinto) Boa Vista - O tema relacionamento Imprensa/Judiciário, pelo menos desde o início da década de 1990, tem ocupado boas horas de discussão, inclusive em eventos desta natureza [1º Seminário de Direito Eleitoral e Imprensa], que torço para que sejam constantes. Há muito ruído na comunicação entre a Justiça e a sociedade. E, por causa desse ruído, muita incompreensão. Este esforço de empreender um relacionamento de boa convivência com a sociedade, por mediação da imprensa, deve perpassa a imagem de lento, enfadonho e prolixo que o Judiciário tem acumulado ao longo de sua existência, mais precisamente desde a proclamação da república. Boa parte disso pode ser creditado ao ruído de comunicação, que causa as incompreensões que justificam iniciativas como esta que estamos agora presenciando, e que irão enriquecer nossa competência como jornalistas. É recorrente nas redações que a cobertura do judiciário é vista como chata e de baixa audiência. O cidadão não toma conhecimento se a justiça funciona ou não funciona. Felizmente ou infelizmente, isso depende do eixo de visão, é da imprensa o papel de levar a informação à sociedade. A verdade é que não seria possível cotidianamente toda a população roraimense ir ao palácio do governo, ao legislativo ou ao judiciário fiscalizar ou acompanhar o que fazem os seus representantes. Porém, não se deve esperar do judiciário declarações políticas ou polêmicas, diferentemente dos demais poderes onde este comportamento tem se tornado uma práxis. O que devemos esperar do Judiciário é celeridade, funcionabilidade e eficiência em responder ao chamamento da sociedade. Como conseqüência, [o judiciário] necessita construir uma imagem que reflita esse comportamento e, ai, a comunicação se torna um instrumento indispensável. Dentre as ferramentas disponíveis, a imprensa, dada a sua amplitude de atuação e alcance, apresenta-se comum eficaz mediadora dessa relação. Mas o que falta para que isso aconteça, um melhor relacionamento imprensa e judiciário? É preciso que haja mútua confiança. Observa-se que por mais gentil que seja o tratamento entre um membro do judiciário e outro da imprensa, há sempre o temor, do primeiro de ter sido mal interpretado e, do segundo, de ter sido enganado. É necessário que a imprensa faça um esforço para que possa melhor entender o cotidiano do judiciário, pois a matéria jurídica não é uma área fácil. É necessário também que o Judiciário amplie seus esforços para ser fazer compreender, evitando "esconder-se" sob o manto dos jargões e tecnicismos do mundo jurídico e garanta transparência absoluta nessa relação com a imprensa, decodificando esses paradigmas que prejudicam essa aproximação e ainda prejudicam a sociedade com informações gravemente deformadas. O Judiciário continua um desconhecido no meio social. Não só quando o assunto é seu funcionamento mais o que faz em nome do interesse social. Daí a indispensável necessidade de interação entre Judiciário e Imprensa, onde cada um deve conhecer e compreender a forma e o ritmo de trabalho do outro. A existência da justiça, assim como a do jornalismo, não permite que nenhuma das partes se desconheça. Infelizmente a cultura da imprensa brasileira, e por que não dizer do resto do mundo, ensina que matéria quente, que dá manchete e ganha destaque na televisão, no rádio e no jornal, é só aquela que gera conflito, briga e escândalo. De um lado, o Judiciário leva tempo no cumprimento de suas obrigações, qual seja, confrontar a apreensão (executada pela polícia ou sociedade em geral) e o raciocínio (constituição, códigos, leis, decretos, MP, etc.), para julgar e sentenciar. De outro lado, a imprensa executa as três operações, sozinha e numa velocidade assustadora, sentenciado na maioria das vezes de forma severa e letal. Collor foi condenado pela a mídia e inocentado pela justiça. Nessa forma conflitante de entendimento só há um perdedor: o cidadão, receptor da notícia equivocada que aumenta seu descredito no principal ponto de sustentação da democracia, a justiça. Não é papel da mídia exaltar, com notinhas agradáveis, mais apresentar os fatos de acordo com o interesse da sociedade. É preciso reconhecer que a sociedade não anda feliz com a agilidade da justiça e desconfiada com a postura da imprensa. É urgente e imperioso um acordo entre os jornalistas e o poder, mas sem que a sociedade fique de lado, pois se trata de nosso principal cliente, tanto da justiça quanto do jornalismo. A imprensa jamais deve perder seu direito de crítica, a responsabilidade de identificar os erros do Judiciário, mas o jornalista precisa ter respeito pelos fatos, sem esquecer que todos nós somos falíveis. Não é segredo que equívocos ocorrem tanto por parte da imprensa quanto da Justiça. Nós, jornalistas, devemos perder a prepotência de reconhecer um erro e a humildade de corrigi-lo. Às vezes, por dispor de um microfone, máquina ou teclado nos sentimos donos da verdade, infelizmente, isso não é tão raro assim. Experimente pergunta ao povo sobre o conceito da imprensa e irá ouvir poucas e boas. A Justiça também precisa corrigir sua rota para quebrar essa imagem negativa que persegue essa instituição tão necessária para a manutenção da vida em grupo. Deve começar por mudanças no relacionamento com a imprensa, buscando a aproximação e não o distanciamento, sem interferi na isenção do juiz, mas mostrando para a sociedade a sua face humana. Ampliar o esforço para eliminar o câncer de qualquer instituição pública: a burocracia. "Uma imagem negativa se alimenta do silêncio".