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História da MPB online - A história da música brasileira no ar, para quem quiser ouvir

Instituto Moreira Salles disponibiliza para internautas acervo inédito e raro. Sem muito alarde, o Instituto Moreira Salles (IMS) está promovendo uma revolução no trabalho de pesquisa da história da música brasileira. O instituto está disponibilizando na Internet os acervos de sua divisão musical, que inclui as coleções dos músicos Antônio D'áuria, Pixinguinha, Elizeth Cardoso e Ernesto Nazareth, do crítico José Ramos Tinhorão, do pesquisador Humberto Franceschi e do jornalista Walter Silva. No última dia 18, o trabalho deu seu passo mais expressivo até agora, quando as 13 mil músicas do acervo de Franceschi entraram no endereço www.ims.com.br , com acesso gratuito e irrestrito.


Miguel Conde - Globo Online RIO - Sem muito alarde, o Instituto Moreira Salles (IMS) está promovendo uma revolução no trabalho de pesquisa da história da música brasileira. O instituto está disponibilizando na Internet os acervos de sua divisão musical, que inclui as coleções dos músicos Antônio D'áuria, Pixinguinha, Elizeth Cardoso e Ernesto Nazareth, do crítico José Ramos Tinhorão, do pesquisador Humberto Franceschi e do jornalista Walter Silva. No última dia 18, o trabalho deu seu passo mais expressivo até agora, quando as 13 mil músicas do acervo de Franceschi entraram no endereço www.ims.com.br , com acesso gratuito e irrestrito. Até então, elas só podiam ser ouvidas na sede carioca do IMS, na Rua Marquês de São Vicente 476, na Gávea, onde estão desde 2002. Foram doadas ao IMS pela Petrobras e pelo Banco Icatú, que adquiriram e digitalizaram o acervo (o trabalho foi feito nos estúdios Visom, no Rio). - As músicas vão do nascimento da indústria fonográfica brasileira, em 1902, até 1964, quando o 78 rotações foi definitivamente substituído pelo LP. As primeiras gravações de Pixinguinha estão lá. Há sambas, lundus, choros, marchinhas, muita coisa feita na fase mecânica da indústria, antes de 1929 - diz José Luiz Herência, coordenador do projeto. Entre os registros está a primeira gravação instrumental feita na América Latina: solos do flautista Patápio da Silva gravados em 1902. - O Brasil foi o terceiro país do mundo a gravar discos, depois dos EUA e da Alemanha. A captação de som era feita com um balde de metal chumbado na parede e o som ia por um arame até o disco de cera - diz Humberto Franceschi, que acompanhou pessoalmente a restauração de cada fonograma. Algumas dessas gravações existem nos acervos de outras instituições, mas em geral chegar a elas exige paciência e credenciais que nem todo mundo tem. - Ouvir este tipo de material, que é raro, depende de um lono trâmite burocrático. E para conseguir tem que ser pesquisador, com documento da universidade - afirma. Humberto Franceschi diz que, mais do que pesquisadores, ele quer que os jovens escutem as gravações: - Pesquisador só gosta de musical da Metro. Estudam música brasileira para ganhar a vida. Eu quero é que este pessoal mais novo, que escuta rap, rock, ouça os sambas. Quem ouvir as músicas - sejam pesquisadores fissurados em musicais antigos ou jovens metaleiros - pode ainda ler informações como o ano em que elas foram feitas e os músicos que participaram das gravações. Também já é possível ler no site do IMS cinco livros raros da coleção de Tinhorão: "O Samba", de Orestes Barbosa, "O choro", de Alexandre Gonçalves Pinto, o 'Animal', "O Cabrocha", de Jota Efegê, "Na Roda do Samba", de Francisco Guimarães, e "Minha Vida", a autobiografia de Francisco Alves. - São livros fundamentais para qualquer crítico e pesquisador. Contam a história do choro, do surgimento das escolas de samba, do nascimento do rádio, da transformação da música num negócio, dos carnavais na Avenida Rio Branco - enumera José Luiz. ''Minha Vida'' - livro publicado em 1936 - relata os primórdios do rádio no país. Apesar do nome, causou furor pelo que o autor revelava da vida de outras pessoas. - O livro é cheio de histórias de cantoras, músicos e empresários envolvidos no nascimento do rádio brasileiro. Francisco Alves era considerado um grande compositor, mas tinha fama de roubar músicas dos outros, então não era muito bem visto - diz José Luiz. Ao todo, o site oferecerá cem dos 10 mil livros que compõem a coleção de Tinhorão. Foi o próprio crítico, curador permanente de seu acervo, quem fez a seleção. Devido ao estado frágil de algumas obras, o IMS optou por digitá-las, em vez de escaneá-las. Com este processo, José Luiz calcula ser possível acrescentar ao site cinco livros por semana. - As 80 mil músicas e 40 mil artigos de jornal sobre música brasileira do acervo de Tinhorão também ficarão disponíveis no site - explica. O acervo musical do IMS começou a ser composto em 1999, com a aquisição de partituras, fotos e documentos de Pixinguinha. Hoje, após a chegada de outras coleções, o próprio instituto não conhece por inteiro o material que tem em mãos. A catalogação do acervo é um trabalho contínuo, conduzido diariamente por uma equipe de músicos, historiadores e cientistas da informação. Em comparação com as de outras instituições, a coleção do IMS é recente. Mas cresce rápido. - Muitos herdeiros nos procuram, por que temos boas instalações para a conservação. Fazemos a escolha com muito critério, não podemos receber tudo que nos oferecem - diz José Luiz. Além do acervo musical, o IMS possui coleções importantes de literatura e fotografia. - Talvez tenhamos o maior acervo de fotografias do Brasil antigo, com fotos de Marc Ferrez e Augusto Malta - informa José Luiz. Esta coleção também será disponibilizada pela internet, quando estiver concluído o trabalho no acervo musical. Segundo a gerente do site, Paula Papis, as próximas duas semanas ainda são de teste, embora as músicas já estejam disponíveis. A cautela se deve à pane que ocorreu na primeira vez que o IMS botou as músicas no ar, em abril. O site recebeu mais de 3 mil cadastros num dia e ficou sobrecarregado. Reformulações providenciadas, espera-se que os problemas não se repitam. O tempo médio para fazer o cadastro e receber a senha é de sete minutos. Aí, é só ouvir.

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